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O QUASE MORTO E O QUASE VIVO
Roberto Axe

Resumo:
O homem quase-morto recebeu a visita do homem quase-vivo.





O homem quase-morto recebeu seu amigo quase-vivo.

O homem quase-morto estava quase morto.

Estava em uma cama de hospital, nas últimas.

O homem quase-vivo estava aflito:

    – Aquela mulher acabou comigo! – disse com um pouco de raiva – Desgraçada! Se ela pensa que darei o braço a torcer está muito enganada! Caramba o que eu faço? Sou louco por ela! me ajude, diga alguma coisa! Você nunca me deu um conselho na vida! Um, que seja... que amigo você é, hein? Só me lembro daquela baboseira que me disse certa vez de que não deveríamos ser carregados no colo quando andamos em nossa própria estrada, sei lá, ou coisa parecida.... Você sempre foi meio enigmático...

O homem quase-morto sorriu.

    - Bem, estou para iniciar um novo negócio, o que você acha? Sim, eu sei, são tempos difíceis coisa e tal... mas quem não arrisca... né? Sei lá... o que você acha? Diz alguma coisa, porra! Qualquer coisa! Nem que seja da minha camisa, paguei duzentos paus nela! Bonita? Diz aí! Bonita?

O homem quase-morto sorriu.

    - Você está me irritando, meu! Esse silêncio está me irritando... Diga-me o que achou do meu bronzeado? – o homem quase-vivo abriu a alguns botões de sua camisa nova de duzentos paus deixando o peito à mostra – Veja, que bronzeado, hein? É que estive na praia no fim de semana, cara, que mulherada! Pensei em você... sim, eu penso em você, seu ingrato! Gostaria que estivesse comigo, ah... que mar! Azul, azul, você precisava ver. Sim, o lugar ideal para me divertir e esquecer aquela cadela! Você não acha? O que me diz?

O homem quase-morto sorriu, depois riu e depois tossiu.

O homem quase-vivo foi até a janela e olhando para fora comentou:

    - Ah, que dia! A noite vai ser boa! Vou encher os cornos hoje à noite, tomar todas, eu mereço né compadre, é ou não é? Mereço ou não mereço? Claro que mereço, porra! Com tudo isso que ando passando por causa daquela vagabunda! Aquela vagabunda! Mas até que é gostosa, né? Hehehehe... eu sou foda, meu! Você sabe, não preciso repetir. Olha, enchi o saco! Você aí, não me diz nada, não me dá um bom conselho, daqueles que só os bons amigos dão... nem isso você faz! Sinto que estou é perdendo meu tempo aqui, fui!

O homem quase-vivo saiu do quarto e o homem quase-morto ficou por muito, muito tempo fitando a parede branca.

Os minutos foram passando, depois as horas...

O homem quase-morto, quieto, imóvel, enfim morreu.

Mais vivo do que nunca...    


Biografia:
Profissional da área de Marketing e Escritor.
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