Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Lixo declaratório
Juntar números não significa apresentar um estudo
Alexandru Solomon

Resumo:
Pelé pendurou as chuteiras e a inflação continuou firme e forte até o advento do Plano Real.

“Os números falam por si”. Eis um lugar-comum que mereceria um complemento: “desde que corretamente organizados”. É o caso das matérias apresentadas pelo Estadão na página B4 do caderno Economia de 17/10/11.
Um exemplo clássico, vindo do século passado ilustra o ponto. Nos anos de inflação galopante havia uma ‘constatação’ – correlação espúria – : à medida que aumentava o número de gols de Pelé a inflação avançava. Obviamente, as duas sequências de dados nada tinham em comum, e a ninguém passou pela cabeça pedir ao Pelé que, em nome do combate à inflação, parasse de marcar gols. Posteriormente, essa ‘teoria’ afundou. Pelé pendurou as chuteiras e a inflação continuou firme e forte até o advento do Plano Real.
“Assalariados pagam mais IR que os bancos”, diz a matéria do Estadão.
Ilustrando essa “distorção tributária”, o leitor é informado que o IR/trabalhadores no período set/2010-ago/2011 foi de R$ 87,6bi, enquanto os bancos recolheram R$ 36.3bi considerando IR, Cofins, Pis/PASEP e CSLL.
O que se pode concluir? (diga-se de passagem, essa afirmação não é nova, sendo até objeto de estudos acadêmicos).
Nada. Provavelmente, as pessoas físicas (assalariados, profissionais liberais, artistas etc.) devem ter recolhido mais IR que a indústria petrolífera, ou que a indústria siderúrgica, fato que aparentemente causa menor indignação no articulista, a ponto de não merecer menção. Da maneira que os números estão apresentados, é impossível verificar qual a participação de salários e de honorários, ganhos de capital, aluguéis etc. De qualquer maneira, parece um equívoco misturar assalariados com pessoas físicas em geral. A conclusão do artigo ilustra um outro ponto: É possível chegar a uma conclusão correta a partir de observações desconjuntadas.
De fato, ninguém poderá contestar que: “Não basta o Estado bater recordes de arrecadação...”
A seguir um outro artigo ilustra a “imparcialidade” tão necessária ao se examinar um problema. Diz a manchete “Setor financeiro tem benefício de R$ 26 bilhões”. Ah, os miseráveis – seria a primeira reação. Uma leitura do texto mostra que a objetividade se faz rara nesses dias.
Um estudo do Sindifisco mostra que um benefício previsto na legislação brasileira, que mais contribui para que os bancos recolham menos imposto é a permissão para remunerar sócios e acionistas por meio do pagamento de juros sobre o capital próprio. Ah, os infames!
O sítio da Receita informa: “Os juros pagos ou creditados, a título de remuneração do capital próprio devem ser tributados exclusivamente na fonte à alíquota de 15%, na data do pagamento ou crédito. O imposto retido não pode ser compensado na Declaração de Ajuste Anual.”
De fato, as pessoas físicas, dependendo do montante de sua renda tributável chegam a pagar 27,5%, mas esse não é um benefício direto do setor financeiro.
Ocorre que o pagamento de juros sobre o capital próprio é uma prática que não beneficia unicamente os bancos, fato que o articulista não procurou informar, justo hoje quando no Estadão na página A2 aparece um excelente artigo, Jornal, qualidade e rigor, no qual o autor, Carlos Alberto Di Franco, frisa a importância de as matérias jornalísticas se diferenciarem pela qualidade da informação, análise etc. “Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.” Esse é o caminho.


Biografia:
Alexandru Solomon, empresário, escritor. Formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar`, ´Um Triângulo de Bermudas`, ´O Desmonte de Vênus` (Ed. Totalidade), ´Bucareste` e ´Plataforma G` (Ed. Letraviva). Livrarias: Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Cultura (www.livrariacultura.com.br), Loyola (www.livrarialoyola.com.br), Letraviva (www.letraviva.com.br). | E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br

Este texto é administrado por: Celso Fernandes
Número de vezes que este texto foi lido: 61729


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Alternativas Alexandru Solomon
Crônicas Solidão Alexandru Solomon
Crônicas Página virada Alexandru Solomon
Artigos PRÓXIMA ESTAÇÃO: O ENCILHAMENTO Alexandru Solomon
Artigos Absurdo Alexandru Solomon
Artigos Vergonhosa marca registrada Alexandru Solomon
Artigos Lucy revê suas anotações. Ich bin ein Absurdistaner Alexandru Solomon
Artigos Lucy consulta suas notas de viagem Alexandru Solomon
Crônicas O mundo gira Alexandru Solomon
Crônicas Ópera Alexandru Solomon

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 21 até 30 de um total de 178.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Você acredita em Milagres? - Keiti Matsubara 62492 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 62478 Visitas
Parada para Pensar - Nilton Salvador 62470 Visitas
Hoje - Waly Salomão (in memorian) 62457 Visitas
Entrega - Maria Julia pontes 62449 Visitas
O Velho - Luiz Paulo Santana 62440 Visitas
PEQUENA LEOA - fernando barbosa 62418 Visitas
Mórbido - Maria Julia pontes 62416 Visitas
Conta Que Estou Ouvindo - J. Miguel 62413 Visitas
A Voz dos Poetas - R. Roldan-Roldan 62401 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última