TARDE CINZA |
Vôgaluz Miranda |
Era uma tarde nublada
De agosto de 1987
Ela chegou meio calada
Óculos escuros
Roupas escuras
Poucas palavras
Estampava no rosto uma tristeza
Incompreensível para a minha indiferença
Trazia no peito a repentina saudade
Inalcançável para os meus 14 anos
Ela sentia no fundo da alma
A perda irreparável de um irmão
Que havia deixado tantas palavras
Tantos enredos
Sonhos de esperança
Perspectivas de um mundo melhor
Eu nem sabia do que se tratava
Mas achei estranho aquele comportamento
Ela fechou a porta
Dirigiu-se até o centro da sala
Retirou os óculos
E todos notaram a vermelhidão nos olhos
E todos notaram a sinceridade no olhar
Eu nem sabia do que se tratava
Eu nem sabia que aquele momento
Ficaria para sempre na minha memória
No meu coração órfão de pronto
Ela respirou profundamente
E dirigindo-se a todos
Disse com voz embargada:
“Pessoal, estamos de luto.
Morreu o poeta Carlos Drummond de Andrade.”
Naquela ocasião
Eu que, até então, não estava nem aí
Senti que em minha redoma juvenil
O vidro havia se quebrado.
|
Biografia: Nasci na cidade de São Paulo em 20 de outubro de 1972. Escrevi na década de 90 algumas letras de música. Escrevi um livro de poemas em 2005 intitulado 'O Perfume do Tempo' [não publicado] com aproximadamente 50 poemas. Também escrevi um romance intitulado 'O Homem sem Coração' entre 2004/2005 [também na publicado]. Atulamente estudo e escrevo poemas para um próximo livro. Publico poemas nos sites omelhordaweb.com.br e recantodasletras.com.br e tenho um blog: vogaluz.blogspot.com
|
Número de vezes que este texto foi lido: 52817 |
Outros títulos do mesmo autor
Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.
|