eu sou o pó que contaminou o poço
eu sou a cobra que envenenou o moço
eu sou a sobra do que é só osso
eu sou o resto do que é só um esboço
eu sou a canoa que virou no lago
o automóvel que despencou do penhasco
um trem desgovernado em São Paulo
um avião que virou estilhaço
eu sou a enchente que afligi o cidadão
sou a seca que ataca o sertão
na falta da luz, eu sou o apagão
sou as marcas do trabalho em suas mãos
sou uma lágrima ao fim da esperança
o suicida com a corda na garganta
o equilibrista que caiu da corda bamba
sou o fantasma que assusta a criança
a fumaça tóxica, a chuva ácida
a terra árida, a sua cólica...
o pó, a pedra, o mato
o fogo, a fumaça, o alcool...
o tropeço, a queda, a dor
a raiva, o ódio, o rancor...
...e se eu disser que é por AMOR?
|