Sua Excelência o Sr. Ministro da Fazenda parece querer dar razão a Mark Twain, ou a Niels Bohr, que sustentavam ser difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro. Estivesse o Sr. Guido Mantega trabalhando num instituto meteorológico, seria um sério candidato ao desemprego, tamanha sua vocação para errar sistematicamente nas suas previsões. A última delas – citar as demais seria tedioso – foi quanto ao preço da gasolina que não aumentaria (dito dia 7 de abril), mas que poderá aumentar, segundo uma fala mais recente em audiência na CAE. (O Estado 4/5 B6). Convenhamos que os preços da gasolina só podem aumentar, permanecer estáveis ou diminuir. Duas dessas possibilidades conflitantes já foram defendidas pelo titular da Fazenda. É verdade que dessa vez decidiu num primeiro momento não fazer aposta alguma, para tristeza dos amadores de vinhos “dos bons”.
O mais recente achado reside em importar para segurar a inflação. Boa sorte, ministro. Importe cabeleireiros, encanadores e dentistas, para começar.
Para complementar a panóplia, pediu a colaboração dos empresários. Seria um pedido com cheiro de CIP ou de caçada de bois no pasto? Mexer no ‘custo Brasil’ fica para um outro dia.
Alinhado com o pensamento de Karl Popper, segundo o qual, as teorias econômicas jamais tiveram a menor utilidade prática, Sua Excelência pontifica: “É coisa do passado essa mentalidade de que aumento de salário gera pressão inflacionária. Aumento de salário mínimo é mercado, é consumo, é estimulo à produção e ao investimento”. Embalado pelo próprio discurso, parece ter desprezado dois detalhes. Aumentos de salário em percentuais superiores aos ganhos de produtividade no passado e hoje são inflacionários. Quanto ao estímulo à produção e ao investimento sobra-lhe razão, não fosse um desagradável e incômodo detalhe: os investimentos possuem um prazo (frequentemente estourado – o PAC que o diga) de maturação. Enquanto essa maturação não ocorrer haverá pressão de demanda com impacto sobre preços. Seria a manifestação do tal ‘jus sperniandi’ – expressão citada por Sua Excelência, num outro contexto – dos fatos, ocasionalmente em conflito com as versões.
Como essa expressão existe, mesmo não sendo latina, há algum motivo para preocupação. Melhor faria o Sr. Ministro da Fazenda se seguisse a maneira de pensar de Albert Einstein: “Não penso no futuro, ele chega cedo demais”.
|
Biografia: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar`, ´Um Triângulo de Bermudas`, ´O Desmonte de Vênus` e ´Bucareste`, contos e crônicas (Ed. Letraviva). Livrarias: Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br), Cultura (www.livrariacultura.com.br), Loyola (www.livrarialoyola.com.br), Letraviva (www.letraviva.com.br). | E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br |