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A ONÇA HIPOCONDRÍACA
ONÇA
Ismael Monteiro

Resumo:
É um conto sobre uma onça que gostava de tomar remédios.

A ONÇA HIPOCONDRÍACA

     Cebila era uma onça pintada do tamanho de uma vaca charolesa. Desde pequena Cebila sentia-se atraída pelas farmácias. Aos 15 anos deixou a floresta e veio morar na cidade. Arrumou casamento e daí teve duas rebentas. Arrumou um marido e um filho postiço numa noite enluarada cheia de poesia.
     Quando completou 25 anos queria a todo custo morar numa farmácia com sua família. Como era impossível tal empreitada ela se contentou em morar perto de uma.
     Após essa idade ela tornou-se uma inveterada fã das farmácias. Em sua bolsa carregava extensas bulas de remédios. Mais tarde conheceu um médico chamado de Matinhos de quem muito se afinizou pois ele era prático em fornecer receitas de remédios. Achou o máximo, pensava. Estava realizada. Já que gostava tanto de remédios, começou a fabricar doenças também. Aos 45 anos sua cara era de uma doente desenganada pelos médicos tipo terminal. Mas nada disso a detia. De repente ela pensou: puxa, se eu fabricar mais doenças posso tomar mais remédios e nada, nada, vai me deter.
     Começou logo a emagrecer e parecia um cadáver, tipo zumbi dos filmes de terror. Com o tempo aumentava a sua demência. Agora já tomava medicamentos para dor de cabeça, dor na vista, estresse, dor nos ossos, dor de estomago. Todo dia ela inventava uma dor. Até para ir no banheiro tinha dor. De repente ela faltou o serviço onde trabalhava. Todos ficaram preocupados, mas ela não. Puxa, pensava, se eu ficar em casa vou ficar mais doente e daí posso tomar mais remédios. Essa tara por medicamentos não parava. Sua bolsa era cheia de vidros, pastilhas, comprimidos. Sua leitura preferida era de bulas de laboratórios. Começou a ficar apaixonada também pelos laboratórios. Já deixava todo salário nas farmácias. Mas isso era de menos, pensava ela. Era para uma boa causa. Seus presentes de aniversários eram remédios.
     Aos 47 anos ela fantasiou-se de comprimidos daqueles de duas cores tipo antibiótico. Pensava que estava agradando todo mundo. Vejam como ficou: na parte de cima da barriga era da cor vermelha e na cor de baixo era amarelo. Seus braços, cabeça e pernas saíam para fora de forma que ela ficou muito elegante, pensava. Quando chegou ao trabalho, nossa! Seus olhos no fundo, as duas cores, os arrotos, a dor de cabeça, a dor de garganta, tudo voltou. Mas ela era felicíssima, afinal estava doente novamente. Nada mais providencial do que consultar o Matinhos, que todo sorridente disse: minha querida cliente, vou te dar mais algumas caixas de antibióticos, esses são chamados de A última tábua de salvação. Antes de tomá-los vá num padre fazer a extrema unção. Mas não se preocupe, é bom você ficar viva para tomar mais remédios. E depois, se morrer não vale a pena. Os laboratórios não vão gostar.
     Eis os conselhos do Matinhos: sabe, acho que vou te dar alguns remédios errados para que fique mais doente. Você quer? Sim, respondeu ela. Vou tomar errado para ficar mais doente e tomar mais remédios. A vida é bela. Viva os antibióticos!
     Depois dessa cena, vejam o que aconteceu. Cebila azulou, sua pele que já estava esturricada por causa dos remédios, tornou-se azul. Puxa,. Que bom, pensava. Agora já podia tomar remédios para desazular. Ao som da terceira sinfonia de Beethovem ela morreu. Pesava 1 kilo e meio. Tinha um sorriso nos lábios. Estava realizada. Passara para outra vida muito alegre. Seu velório foi curto, mas vieram todos os donos de farmácias e laboratórios. Seu caixão foi tipo embalagem do Tetrex e penicilina. Sua roupa era feita de bulas. Deixou uma herança de muitos medicamentos a todos. As músicas de fundo de seu velório foram: melhoral, melhoral, é bom e não faz mal! Tomou doril e a cabeça caiu!


Biografia:
Sou pesquisador científico há vários anos e possuo conhecimento sobre diversas áreas.
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