Não sejamos como os baios burros de carga,
a comer, beber, obedecer aos seus donos, e a seguir:
sem ter sequer um chapéu de abas largas,
trabalhar muito e, depois de extenuados, só dormir.
Precisamos aproveitar bem o tempo e maturar as ações,
para produzir os melhores resultados que integram,
sem precisar se valer da força bruta ou de imposições,
e do constrangimento das altercações das regras.
Não devemos agir como mendigos, a reclamar atenção,
nem ficar pedindo dinheiro, emprego, justiça e paz,
mas exigir o reconhecimento, e também a reparação,
em face do desrespeito aos nossos direitos fundamentais.
Incomodar-se e não se conformar,
eis o princípio ativo para transformar;
quem se incomoda e não se conforma, entra em ação:
muda a si mesmo no mundo em constante transformação.
Até mesmo os baios burros de carga
demonstram ter vontade própria, e então:
rebelam-se, 'emburram', 'emburrecem',
e aos seus donos não mais obedecem,
já não saem do lugar onde estão;
se não querem comer, não comem,
se não querem beber, não bebem,
já não querem trabalhar, nem dormir,
e todo o esforço parece ser em vão.
Tudo muda, o mundo muda,
as pessoas mudam em todo lugar,
e ninguém deveria continuar
do mesmo jeito, ou do jeito que está.
Na maior parte das vezes
a semente é o caroço,
e para reconhecê-lo
abre-se a fruta, seu moço.
Não é fácil distinguir o rosto e a máscara,
falsos valentões e verdadeiros heróis,
fruto verdadeiro sem lhe tirar a casca,
carolas falastrões e verdadeiros fiéis.
Artifício que sempre engana
a muitos, e por algum tempo, é a aparência,
mas o que conduz o ser humano
ao seu verdadeiro propósito, é a essência.
Se fizermos o que não gostamos,
ou o que não queremos amar,
vamos ver o tempo a passar
como carroça com roda quebrada
a ser forçosamente arrastada.
Mas, se por vontade própria vier a ocorrer
a vida que queremos e que gostamos de fazer,
o tempo irá bem, num relance a passar,
como um par de olhos vivos a piscar.
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