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JUCA PERALTA, Um Romance de Sergio Mudado
Literatura Brasileira de Primeiríssima Qualidade
silas C. Leite

Resumo:
O novo romance de Sergio Mudado: Um clássico. Obra prima da literatura contemporânea. O maior escritor de Minas Gerais atualmente

Pequena Resenha Crítica


Um Romance Fora de Série:
“Os Negócios Extraordinários de um Certo Juca Peralta”
Do Literato Sergio Mudado

Que a literatura moderna é perigosa
é algo inconteste. A única resposta
digna da crítica que ela suscita, é que
essa literatura venenosa exige um novo
tipo de leitor: um leitor que ‘responda’

Paul Ricouer, Pensador Francês

-Eu sou macaco de auditório do médico-literato Sergio Mudado, desde que me deliciei com o livraço Vassalu, que tive o prazer de resenhar e que, acho, vertida para o inglês, devidamente encaminhado para um agente literário dos Estados Unidos daria um filme clássico muito melhor do que Tróia e Gladiador, e que, em tese, trata do mesmo tema, época e idade média da história. Estupenda obra prima.
-Por isso, quando recebi “Juca Peralta”, Romance, custei a me preparar para a leitura que teria que ser especial, prazerosa, e que, certamente iria mexer com meus botões sensoriais. Vivendo época pessoal difícil, de amarga caminhadura, finalmente entrei de vereda na leitura que prometia, aqui e ali parando, indo e vindo, até que finalmente tomei pé definitivo e dali em diante, escolado, salve-se-quem-puder, caí no fluxo narrativo e babei. Baba baby, diria a canção. Pois foi por aí...
-A narrativa de Sergio Mudado cativa, seduz, empolga, pega o ledor feroz pela mão, leva-o para passear no parque temático das contações, uma linguagem ao mesmo tempo em que cult e pop, lembrando aqueles historiadores e cronistas mineiros que deitam falatório e seduzem, aplainam, e, levados da breca, fazem o leitor seduzido curtir, gostar, “cerrir” (como se diz lá em Itararé), e outros prosopopéias de mais um clássico da literatura brasileira que o Sergio Mudado é mesmo o numero um atualmente. Só senti o mesmo prazer quando li O Baudolino do Umberto Eco, Sergio Mudado no mesmo patamar, no mesmo nível.
-Contações com esmero, dados filosóficos e místico-conceituais, passando pela história de Minas e suas semeaduras gerais, do Brasil de muito ouro e pouco pão, do mundo que Brecht rotulou como em tempos tenebrosos, como se o autor inventasse uma toda própria memória recorrente de idas e vi(n)das, alguns dados místicos, e, toma-lá-da-cá, o bendito boêmico personagem principal Juca Peralta que pinta e borda alardeios e mesmo insanidades, e bota suspensório em cascavel, aprontando das suas peraltices, entre prazeiranças e contentezas de um livraço. Muito prazer de ler, acreditem. Sergio Mudado narra com uma baita maestria, que dá o que sentir, curtir, florir-se. O próprio pensador francês Paul Ricouer ainda reafirma, a propósito do livro e de seu prumo literário: “Não temos a menor idéia do que seria uma cultura em que não se soubesse mais o que significa ´narrar,”
-Sergio Mudado dá show. Romance pontuado com causos do arco da velha – o escritor um grande mentiroso? – e o leitor entra de mala e cuia e mente lavada, e vai sendo bombardeado pelo implícito, explicito, internarrativas, ora sob um enfoque, ora sobre outro, na garupa do historial o leitor é conduzido e monta a galope o romance-quase-novela todo. Será o impossível? Pois, a acredite, se quiser, o livro de mais de 400 páginas cumpre a missão maravilhosamente, Sergio Mudado no auge, esmerilhando mitos, lendas, fofocas, mentiras e, claro, o conhecido e magnífico fluxo narrativo que é como se o doutor médico, também aí incluído importante (com prisma todo próprio) também uma persona en-passant no livro, e ainda assim por isso mesmo nos trouxesse mentes, corações, sentimentos, perdas e drenos, sob a sua ótica-criação de primeira grandeza, em belos horizontes, trilhas, errações, contrações e bravezas. Bravo.
E em troca de e-mail com o literato Sergio Mudado, dele tirei dados, pondo pimenta-camari na minha leção: “...No Juca Peralta você chegará a um capítulo no qual Juca e Noel Rosa passeiam pela noite da cidade em (1936), e a atmosfera é de pura magia. O livro, admito, não é de leitura fácil e contém alguns segredos que podem ser desvendados ou não. Noge é o inverso de Egon, e é justamente um alter-ego do grande memorialista Pedro Nava (José Egon de Barros). Ele se torna o senhor do tempo podendo ir e vir, passado e futuro. Cleópatra é Ísis, deusa maior do panteão egípcio. O rádio Matador existiu como foi descrito. A Leitora, que acompanha quem narra, também existiu (e existe) de verdade, acompanhou a feitura do romance. Existe assim um espécie de realismo mágico. O livro começa em janeiro de 1939 e termina em setembro quando inicia-se o II conflito mundial. Nele entram, além de Pedro Nava, Guimarães Rosa, Thomas Mann, Joyce, Proust, Kayan e outros. O universo do romance é complexo, mas não indecifrável.... Bem, eu me diverti muito, escrevendo-o. Minha mulher, que não é leitora "profissional" foi colhida pelo livro, o que me tranqüilizou... (...)”
-Wesley Duke Lee disse que "O que realmente me interessa é a qualidade da ilusão." No caso de Sergio Mudado ainda é a qualidade excepcional da imaginação, sentição, “dom de iludir”, cultura histórica, conhecimento dos descaminhos e configurações interioranas da matreira Minas, dando voz a figurinhas carimbadas de sertões, ruas, bares, quintais e zonas das mulheres de difíceis vidas fáceis, altares, quebradas, monturos, escombros e purezas, como no caso do viajante companheiro que é o Fábio, um aprendiz de Juca em mundos e cafundós.
-Entre magias, feitiços, mágicas, zonas de meretrício, cabarés, bares, crônicas, derramas, poemas, muita MPB e Noel Rosa cifrando todo o livro, mais poemas, insinuações paraletrais de quadrinhos, cantilenas, dados folclóricos, mineirices e pujanças, Juca Peralta pelo seu criador Sergio Mudado vai indicando dados dicas de rincões e suas tipicidades, curas, remédios, purgações, bacilos, pachorras, intermediações, matadores de aluguel, bares, comidas e comilanças, mais acidentes de percurso de amor que é cego e carecido, prostitutas, amantes, perigos, acidentes; um mosaico interiorano dessa Minas que muito bem representa a nossa brasilidade mestiça, entre imigrantes, lugares aonde o Judas perdeu o All-star, e vai por aí o bolero, as acontecências, bravatas e impertinências de percurso, feito um bem-bolado daquele que, certamente, é sim um dos maiores escritores atuais de Minas Gerais, um médico romancista. Já pensou?.
-Sobre o maravilhoso livro do cavaleiro medieval de Sergio Mudado eu já tinha escrito (fragmento): “A história é uma pedra na consciência da civilização. Van Tieghem diz que a categoria social e a importância do escritor crescem em forma notória. Deve ser isso. Os privilégios dos caminhos da literatura contra os sandeus do absurdo que ainda impunemente viçam e mandam. Milton Hatoum diz que o escritor passa a vida inteira tentando dizer uma verdade profunda através de uma invenção literária. Sergio Mudado acertou e brilha na sua obra. Aliás, o próprio dia de brilhar (ilha de edição?) vive dentro dele, espelha ele, está no romance dele, Vassalo. Carne e coragem. Idade Média destilada como sangria letral. Por fim, como muito bem observou a amiga Maria Ilsen na apresentação do livro no site da Livraria Cultura, só a consciência da finitude explicaria a busca da continuidade muito além da vida, além dos sentidos. Alguns se tornam vassalos desta busca. Outros, plantam árvores, criam filhos, deixam obras importantes como Vassallu, A Saga de um Cavaleiro Medieval (de Sergio Mudado)”.
-Pois “O Negócios Extraordinários de um Certo Juca Peralta” é desde logo um clássico. Já no prefácio Benedito Nunes diz do realismo grotesco de Juca Peralta, e comenta: “Nas conversas dos personagens(...) intercalam-se o tempo todo versos das modinhas de Noel Rosa, também feito personagem. O próprio romance é um híbrido conjunto fragmentado, que é persegue e perseguido pelo Tempo e suas loucuras. Em contraponto com as peripécias de Juca Peralta, estão as idas e vindas da própria narrativa, que se divide em três partes dentro de um período datado – a partir de janeiro de 1939, ano fatídico, já instalado o Estado Novo por Getulio Vargas. Não esqueçamos (...) que essas idas e vindas é o próprio Tempo em seu fluir invisível, que se elabora como matéria prima da própria narrativa,m o Tempo vertiginoso, que tem medida desigual(...)”
-A Orelha de Juca Peralta já alerta a proposta: “Uma parceria – Semeei-te em mim - diz, quem narra e lê”, selando um pacto entre o leitor/narrador/autor, “perigo, musica e perfume(...) a atmosfera do texto”. E explicita ainda na orelha: “O leitor que ousar acompanhar quem narra, terá, se sobreviver aos perigos que o espreitarão ao longo da jornada, a oportunidade única de sair de si mesmo e contemplar outro universo(...). Sentirá no espírito, ao mergulhar neste mundo fantástico mundo de palavras alinhadas, imenso deleite. E,s e for arguto, poderá reconhecer nesses resquícios de literatura uma declaração de amor a palavras e aos gênios que a transformam: Nava, Rosa, Mann, Proust, Joyce... (...) Romance saboroso, regido pelo antigo deus que, ainda hoje, ilumina a existência dos amantes da arte, dos leitores capazes de ouvir no vento de estrelas a sinfonia cósmica do Senhor do tempo, da Magia e da palavra”
-O vendedor-Inspetor Juca Peralta, caixeiro-viajante, o aspirante a vendedor Fábio, o rádio Matador feito uma metáfora que se comunica, fere, brinca e se expande literalmente, mais expressões, doenças, filosofias, mitologias, fantasmas, tudo impregnando as facetas do livro que são várias, vários prismas, vários espaços cênicos, tudo um verdadeiro vislumbre para quem adora literatura de alta qualidade criadora e narrativa impecável, entre tantos personagens que vão, voltam, somam, dramatizam, ironizam, recheiam o livro, com viagens de trens, estações e paragens, baldeações (inclusive trans-narrativas) citações bíblicas, ou outras em latim, francês, um verdadeiro destrinche das facetas dos personagens, técnicas de narrar e mesmo confeito criacional do autor, fora de série mesmo. Não é qualquer um que pode criar uma obra assim. Não é qualquer dia que uma jóia preciosa assim nos cai na graça ledora impertinente de se deixar encantar. Mil maravilhas.
-Tuberculose, loucuras? Juca Peralta é o “jogo de amarelinhas “(Fidalgas...) de Sergio Mudado? "Cada romance tem de ser um objeto único. O enredo ordena a sua forma. A estrutura do relato segue a intensidade da narração.", diz Juan José Saer. Por fim, falando sério, deixo que o leitor procure o seu exemplar do belo livro, corra atrás, vá ser também Juca e Peralta atrás de seu comboio, lugar-tenente de ilusões, culturas e artes lítero-culturais fantásticas, trem noturno ou não. Porque, de uma forma ou de outra, assim na terra como no céu, loucos ou saradinhos – de perto ninguém é normal, cantou Caetano Veloso – somos todos filhos de estações de trens; afinal, já no passado não cantou o Ministro da Cultura Gilberto Gil, sobre o benfazejo Expresso 2222 da Central do Brasil?

-Sim, há um trem para as estrelas... E em Juca Peralta a vida é um comboio engatando acontenças, e a visão pode ser só um ponto de partida ou de chegada. Deste e de outro mundo.

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Silas Correa Leite - Santa Itararé das Artes/Samparaguai, Fevereiro 2011
Poeta, Ficcionista, Teórico de Educação, Conselheiro em Direitos |Humanos, Jornalista Comunitário, Premio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor
Pós-Graduado em Literatura na Comunicação (ECA/USP)
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos premiados, finalista do Prêmio Telecom, Portugal, à venda no site www.livrariacultura.com.br
E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogue premiado do UOL 2009/2010: www.portas-lapsos.zip.net
Site de sua aldeia natal: www.artistasdeitarare.blogspot.com/


Biografia:
O Poeta e Ficcionista premiado Silas Corrêa Leite tem 53 anos, é de 19/08/52, da histórica e boêmia aldeia de Itararé-São Paulo, Brasil, terra de celebridades artísticas nacionais como o Maestro Gaya, Luiz Solda, Rogéria Holtz, Irmãs Pagãs, Carlos Casagrande, Regina Tatit, Jorge Chuéri, Luiz Barco, verdadeiro celeiro de artistas, portanto. Em Itararé foi bóia-fria, engraxate, vendedor de dolés de groselha preta, garçom, vendedor de jornais. Família pobre, seu pai descendente de judeu-português era acendedor de lampiões de gás e sua mãe mestiça de negro com índio. Com 16 anos ele escrevia pros jornais de Itararé (hoje é autor do Hino ao Itarareense), tinha programa na Rádio Clube de Itararé e, nos shows pratas da casa, imitava ídolos da Jovem Guarda. Por causa de uma paixão impossível, sem lenço e sem documentos em 1970 com apenas a quarta-série do primário migrou para Sampa. Sem dinheiro no bolso/Sem parentes importantes/Vindo do interior, como na balada do Belchior. Morou em pensões e repúblicas, passou fome, voltou a estudar, fez Direito, ganhou ficha nos podres porões da ditadura militar incompetente e corrupta. Sempre escrevendo, começou a participar de concursos e a ser premiado em verso e prosa, até no exterior. Ganhou alguns prêmios, (Prêmio Ignácio Loyola Brandão de Contos, Prêmio Paulo Leminski de Contos, Prêmio Mário de Andrade de Poesia, Prêmio Mário Quintana de Crônicas, Prêmio Ficção Científica e Fantástico em Portugal, Prêmio Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP-SP), Prêmio Lígia Fagundes Telles Para Professor Escritor, etc.) Consta em dezenas de antologias literárias em verso e prosa até internacionais. Lançou um e-book (livro virtual) chamado O RINOCERONTE DE CLARICE com 11 contos fantásticos, cada ficção com três finais cada, um final feliz, um final de tragédia e um politicamente que foi um sucesso no site www.hotbook.com.br/int01scl.htm e destaque na mídia, inclusive televisa (Metrópolis, TV Band., Rede 21, Provocações). A obra, pioneira, de vanguarda e única no gênero, foi indicada como leitura obrigatória na matéria Linguagem Virtual, no Mestrado de Ciência da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina. Faz palestras e congressos, adora mais estudar e ler do que de existir (fez também Geografia, é especialista em Educação, fez várias extensões inclusive em Filosofia Para Crianças, Literatura na Comunicação, Direitos Humanos na USP, etc.) colabora atualmente com mais de 300 sites, inclusive no exterior e em países de língua espanhola. Tem três livros: Trilhas & Iluminuras, Poemas, 2000, Porta-Lapsos, Poemas 2005, e em 2006 lançará Os Picaretas do Brasil Real (Série Cantigas do Escárnio e Maldizer), estando com um livro de ficções premiadas para ser avaliado pela Travessa dos Editores de Curitiba-Pr. Antimilitarista, pela não violência, acredita na arte como libertação, como Manuel Bandeira. É considerado um humanista de resultados, sendo professor, jornalista comunitário e relator de uma ONG de Direitos Sociais. Seu site é: www.itarare.com.br;/silas.htm Sua poesia de apresentação é: Ser poeta é a minha maneira De chorar escondido Nessa existência estrangeira Que me tenho havido E-mail para contatos: poesilas@terra.com.br
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