Pedrinho estava ali nas Laranjeiras, quase na divisa com o Cosme Velho, esperando um ônibus qualquer para levá-lo ao Flamengo. Loiro, olhos azuis, todo arrumadinho no uniforme de um colégio particular, relógio caro num dos pulsos, queria chegar logo em casa para ver o aparelho de"videogame" novo que o pai tinha comprado.
Pegaria o primeiro que aparecesse. Seu relógio marcava seis e 15 da tarde, horário em que não dá para se andar decentemente em muitos coletivos no Rio de Janeiro: a hora do "rush". De repente, surgiu um no meio dos carros que parecia não estar tão cheio. A turma, já no desespero, gritou:
- Olha lá!
- Sai da frente!
- Que droga! Não vai parar!
Parou. Pedrinho entrou e se encolheu no meio daquela gente pobre, humilde e sofrida. Quase esmagado, conseguiu passar a roleta. Já se arrependia de ter pego o ônibus, mas resolveu ficar na sua. E a turma continuou:
- Vai lá em casa amanhã, João?
- Não sei. Eu vou na feira com a Maria.
- Feira?! Isso é coisa de pobre, ô! ... Vai trocar o carteado por aquela mina? ...Ei, passaram a mão no meu traseiro!
Aí repararam nele. Um deles disse:
- Pergunta aí pro russo que horas é!
Todo assustadinho, temendo alguma encrenca ou mesmo ser assaltado, saiu andando para a frente, pisando nos calos alheios e imprensando quem estava perto. Deu para sair do veículo e respirou aliviado quando o viu se distanciar.
Porém, teve de voltar ao colégio: na pressa, esquecera as fitas de jogo na carteira ...
Nota do autor: Laranjeiras, Cosme Velho e Flamengo são bairros da zona sul da cidade do Rio de Janeiro.
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