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O Último Membro
João Murillo

Meio tonto, minha cabeça rodava, não conseguia mexer meus braços, nem mover as mãos, sentia uma dor nos meus pulsos, sentia algo melado em minhas mãos, não sabia onde estava, quando, com muito pesar abri meus olhos, pude ver sentado na minha frente àquela figura, vestida de preto, parecia um terno preto, a gravata era vermelha, os cabelos escovados para trás e usava um grande cavanhaque preto, mas nada importava naquele momento, eu só queria saber onde estava minhas lembranças que pareciam um grande martelo na minha cabeça, iam e vinham, via cenas cheias de sangue e adagas, mas não sabia ao certo o que era.
Quando tive forças para abrir os olhos o homem de preto, me ofereceu um cigarro, tentei pegar com a mão, foi quando notei que o melado em minhas mãos era vermelho, na verdade era sangue, meu sangue, não consegui segurar o cigarro, e este veio ao chão caindo numa possa enorme de sangue, bem ao lado de uma enorme adaga em forma de serpente.
-Você não se lembra de nada não é? - disse-me o homem.
-Quem é você? - perguntei.
-Isso não importa, agora, diga-me o que pretendia fazer?
-Eu não me lembro. - respondi atordoado.
O homem me levantou e me colocou sobre uma espécie de mesa, lá pude constatar que havia dois corpos femininos nus sobre a mesa, o homem falou:
-Belo altar, não? - e sorriu para mim, um sorriso tão contagiante que mesmo em toda minha fraqueza eu não pude deixar de retribuir.
Então ele colocou alguma coisa em meus pulsos, que só agora eu entendia que estavam cortados, e disse:
-Está na hora, alto sacerdote. - disse o homem.
-Na hora de que, alto o que? - falei sem entender.
-De irmos nos juntar aos seus amigos. - disse ele, sorrindo.
Minha mente parecia que ia se incendiar, não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que não era algo normal, de repente minha memória começou a clarear, lembrei de uma festa, e de sair com mais algumas pessoas, lembrei de estar com uma adaga nas mãos e de alguma coisa espirrando em meu rosto.
-Espere um instante, que amigos?
-Não se lembra dos seus amigos, do seu Coven? - o homem sussurrou ao meu ouvido.
-O Coven? - aquela palavra fez minha mente queimar.
Levantei a cabeça e vi um enorme pentagrama em cima de mim desenhado em vermelho no teto, na parede detrás de mim o número 666 estava estampado defronte um crucifixo invertido, o que aquilo tudo significava?
-Onde eu estou? Quem é você? E para onde vai me levar? - perguntei, me sentindo um pouco melhor.
O homem sorriu, para mim, aquele sorriso demorou uma eternidade, e de repente virou uma gargalhada.
-Vamos e você um dia talvez se lembre o que aconteceu. - ele me colocou no seu ombro e me levou gargalhando, enquanto eu desmaiava com o forte cheiro de enxofre e o calor que repentinamente aumentava naquele lugar maldito.

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