"Desde seus primeiros anos de vida, a criança aprende a confiar nos que habitam consigo, e por isso não teme de estar na presença dos mesmos. Nestes ela deposita a confiança e o respeito natural do seu instinto de infante. Acredita que sejam incapazes de lhe causar injúria. Estes "familiares" a ela podem se aproximar sem que ela se alarme, e sem qualquer dificuldade, porque deles ela não desconfia ou teme. Pelo contrário, deles ela acredita receber somente consideração, afeto e respeito.
Quando, no entanto, esta mesma figura confiada e familiar é também a mesma que lhe causa a injúria, isso lhe deixa confusa e aterrorizada, já que ela não entende como pode alguém que ela acreditava ser inofensivo, ao mesmo tempo feri-la. Ela não consegue entender a contrariedade da situação. Como pode alguém que deveria tratá-la com admiração, benevolência, consideração e afeto, tratá-la com insolência, falta de consideração, altivez, brutalidade, grosseria, abjeção, desdenho e miséria. Tratá-la como lama, como lodo ou com o mesmo desdenho que se dá a um inseto ou verme sem valor, sem significância, a não ser aquela de desdenhá-lo e odiá-lo pela sua condição tão miserável, deplorável, indigente, infame, infeliz, lázaro, lamentável, miserando, patife, vil e triste.
São estes os sentimentos que a vítima deste crime sente depois do trauma. Ela se sente como um inseto miserável, deplorável, indigente, infeliz, lamentável, patife, vil e triste, como um verme insignificante, pois foi ferida, deplorada, despojada, degradada e desumanizada por alguém que deveria sentir nada mais do que afeto fraternal para com a mesma, dada a sua condição infantil e de ter sido conhecida desde os seus primeiros anos de vida pelo mesmo. Leia mais www.livrevoz.com
Ao invés, este, insensível à espiritualidade da criança, elimina todos os seus valores espirituais de criança, os quais se resumem em inocência, graça, simplicidade, afabilidade, docilidade, meiguice, inculpabilidade, imbecilidade, e singeleza. Estes a consideram como um verme, ou criaturas sem dignidade, por serem trépidos, fracos, simplórios, pequenos, crédulos e tontos. Estes não apreciam as suas qualidades espirituais de inocência, graça, amenidade, afabilidade, candura e simplicidade. Portanto, este crime nega e arrasa o valor mais intrínseco relativo de ser criança, o seu único e próprio valor, o seu valor espiritual que a distingue dos seres adultos, anula e dá fim a sua infância."
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