O difícil não é entender a vida; é vivê-la. É viver sem saber como ela funciona. É viver esperando surpresas, e ver que tudo não passa de uma grande farsa. Tudo não passa de um sonho; um pesadelo; um peido. Somos rápidos, ágeis, inteligentes. E nada nos vence, até nos deitarmos de noite, e lembrarmos que perdemos mais uma vez pelo cansaço da vida.
A vida nos vence aos poucos. Embaçando-nos. Confundindo-nos. Lembramos de coisas idiotas. E dormimos felizes. Perdemos tempo acordando. E esse é o único tempo que temos. O tempo necessário para cansar-nos. É o começo de um fim. É um ciclo vicioso, com fim. É ilógico. É irreal. É surreal.
Assim como entramos no tempo, intrusos, sairemos. Sem saber como. Ou às vezes sabemos. Mas não queremos dizer pra toda humanidade; ou todos iriam embora. Quero fugir da centripicidade. Arrumamos nossas míseras coisas, que de nada nos importa. Juntamos, compramos, ganhamos. E daí tudo está lá, nos esperando. E perde-se a graça. Até se perder. E é aí que queremos tudo novamente. E nos embebedamos. Ficamos felizes; sóbrios, um pouco. E esquecemos do passado. Do tempo. Não há o futuro. E os olhos se fecham uma vez. Duas. E a vida vai nos ganhando mais uma vez, profissionalmente. Intimida-me. E deixo-a ganhar aos poucos.
Percebo isso. Começo a achar graça em insetos, em minha barba mal-feita, mal-nascida. Mal-nascida como eu. Mal-dormida. E sorrio; naturalizo. O importante não é saber que a vida vai nos ganhar. É saber que nunca poderemos detê-la. E viver.
Insetos, voam.
Rodrigo Calderaro
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