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O pangaré de Cosme e Damião
T. Richter

Hoje é Dia de São Cosme e São Damião. Quando criança também eu corri atrás de doce no lugar onde cresci. Quase não vejo mais isso hoje em dia, talvez por causa dessa intolerância quase seiscentista que vai se espalhando. É uma pena.
     A cidade, acho, torna-se um pouco mais sem graça com isso, até porque o Dia de Cosme e Damião sempre rendeu muito folclore- em geral historietas difíceis de acreditar, mas boas para se contar ou ouvir. Outro dia mesmo ouvi uma na hora do almoço, de um amigo do trabalho.
Esse amigo contou-me que sua mãe mantinha o hábito de dar doces de Cosme e Damião todo ano. Distribuía os saquinhos, montava a mesa repleta de guloseimas para a festa do dia santo. Era uma tradição dentro da família.
Entretanto houve certa vez, quando esse meu colega de trabalho tinha uns cinco anos de idade, que a família estava (nas próprias palavras dele) na maior dureza e aquele dia 27 de setembro provavelmente iria passar em branco.
Alguns dias antes do dia dos santos, calhou do pai e meu amigo ter um sonho esquisito. Sonhou com cavalos. Mais especificamente com um cavalo de corrida. O pai não entendia nada de turfe, nunca tinha ido ao Jockey Club Brasileiro na vida, não sabia sequer jogar, mas sonhou com um cavalo ganhando a corrida, com direito a nome do vencedor e tudo mais.
Com o nome do cavalo em mente, no dia seguinte foi procurar um amigo, fanático por turfe, e contou o sonho. Surpreendentemente o apostador veterano confirmou que o cavalo do sonho de fato existia!
-“Mas é um pangaré”- o apostador veterano avisou- “Não corre nada”.
O domingo, dia da corrida, chegou e o pai, mais por desencargo de consciência do que por qualquer outra coisa, apostou no tal cavalo. Como o cavalo era o azarão do páreo, ele acabou jogando uma mixaria, talvez o equivalente a uns dez reais atualmente, sem muita esperança.
O pangaré ganhou. Deu o azarão aquele dia. Como havia apostado pouco, a quantia que recebeu não foi grande coisa... apenas o suficiente para pagar os doces e a esposa montar a mesa de doces de todo ano.
Meu amigo comentou que seu velho pai dizia que todos tem na vida uma oportunidade, uma chance, de ficar rico. E depois daquele dia de São Cosme e São Damião, passou o resto da vida reclamando disso, sentindo ter desperdiçado a sua. Já a mãe, devota dedicada, ficou satisfeita em ter conseguido cumprir a tradição uma vez mais.
Uma pena que meu amigo não conseguiu lembrar o nome do cavalo de jeito nenhum... Será que domingo que vem algum bisneto dele vai correr lá na Gávea?
                                    27/09/2016

*Originalmente postado no extinto fórum do Bar do Escritor

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