Eu não queria um mundo assim, sofrido. Não queria este mundo assim, para ti, tão frio, tão estéril. Não o queria para mim também, mas tenho que aprender a viver nele, preciso encontrar o amor que se esconde, a bondade que raramente floresce. Quero modificá-lo, fazê-lo renascer para ti, para que tu possas sorrir, quando cresceres. Não tenho forças para remover toda a maldade, não tenho poderes para abolir os sofrimentos. Confesso que tu és a fonte de toda a minha força, a origem do meu pequeno poder. Quero modificar o mundo, mas és tu quem me modificas; quero dar-te alegrias e és tu quem me fazes feliz.
Quando estou contigo - quando o mundo se resume na minha e na tua presenças - e quando tu me fitas, a esperança e o amor se fazem realidade: vejo nos teus olhos, criança, as lições todas que preciso aprender - ou reaprender - para viver neste mundo. Teus olhos, tua inocência e a tua alma aberta, sem fronteiras, levam-me por caminhos que julgava não existirem mais para mim.
Sempre que estou ao teu lado, aprendo os pequenos segredos da vida: se sorris, é como se a própria vida sorrisse para mim, como se a minha alma fosse da mesma idade que a tua. Aprendo contigo o amor que modifica o mundo.
Ensina-me sempre e procura esquecer os momentos maus que te faço viver, perdoa-me quando o meu egoísmo me faz cruel para contigo. Adulto é assim mesmo, impaciente, embrutecido: ensina-me a ser paciente, a compreender que a vida não tem pressa e que o tempo é uma invenção, apenas; ensina-me a tua alegria pelas coisas pequenas e simples, a tua capacidade de transformar em sorrisos, as lágrimas e as preocupações.
Aprendo com a tua ternura, a buscar apenas o essencial, a não perder tanta vida na procura de futilidades passageiras, de fantasias. Compreendo, junto de ti, que o teu mundo é o que é real e o nosso é o mundo da ilusão. Sim, porque vivemos e sofremos por coisas banais, pela matéria. Esqueço-me de falar-te de Deus e do mundo espiritual, e tu me fazes recordar dele, em todos os momentos.
Sabes, tu tens um poder enorme para modificar o mundo dos adultos. Tu, criança, com essa tua alma que só sabe ter amor, com esses teus olhos que fitam sem acusar e que às vezes choram, sem entender. Precisamos urgentemente dedicar-te os nossos cuidados, nossa atenção... o nosso AMOR... pois os problemas nos envolvem tanto, que nos omitimos do precioso dever para contigo e quando nos lembramos, a vida já feriu o teu coração, já deixou marcas profundas em tua mente.
Tarde, reivindicamos o teu amor, o teu carinho, reclamamos o teu sorriso para aliviar o nosso cansaço... e tu te revoltas, porque não compreendes esta nossa necessidade súbita, esse nosso egoísmo.
Perdoa-nos, criança, porque não sabemos te amar, não sabemos orientar os teus passos para a vida; és tu quem nos está guiando, embora o nosso orgulho não nos deixe perceber.
É nos teus olhos que precisamos contemplar, é através deles que aprendemos a amar e a valorizar o mundo, a vida. Quero poder ver dentro deles e não me envergonhar, quero sentir que tu terás um mundo, ainda, quero saber sempre ter esperança, para que tu possas tê-la também.
Quero refletir-me nos teus olhos, criança, e ver a vida através deles, com bondade e sem tanto temor.
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