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Pizza em Nova York
Rafael da Silva Claro



É com entendimento sociológico, antropológico e histórico que vejo a celeuma e indignação com que brasileiros viram a fotografia do Bolsonaro devorando um pedaço de pizza barata em Nova York. Para piorar o cenário, ele realizou essa horrível tarefa na calçada, em pé e com a mão. Na necessidade fisiológica básica de aplacar a fome, ele se comportou como um reles mortal, não obedecendo a tal “liturgia do cargo”. Segundo os detratores de plantão, o presidente entregou uma imagem ruim do País. Curioso é que quem conhece “a cidade que nunca dorme”, disse que tudo isso é muito normal. Os críticos, com predisposição a súditos, sentem saudades das cortes que torravam cartões corporativos com hotéis estrelados e restaurantes conceituados. Deslumbrados como novos-ricos “andando de avião”.

As condições não foram recebidas como “dignas de um chefe de Estado”. Acredito que Gilberto Freyre atribuiria o episódio à subserviência ancestral do habitante do país tropical. Quando Dom João VI desembarcou aqui com seu séquito de Aspones, logo vários brasileiros, com subserviência de sobra para a genuflexão à procura de uma autoridade, adoraram a cerimônia do beija-mão e, gentilmente, cederam suas residências ao Príncipe Regente e sua Corte.

Os “coronés” (coronéis), comuns no Nordeste, nunca precisaram fazer parte do Exército ou Polícia Militar para assim serem chamados. Para isso sempre bastou serem respeitados ou temidos, já que são os “donos” da região.

É comum brasileiros com vocação para plebeus se vangloriarem de conhecer alguém importante. Delegado, qualquer um ligado à Justiça ou alguém que pareça uma autoridade, ou detentor de algum poder, pode ser acionado para desenrolar uma situação, tipo acidente automobilístico, briga de bar ou só para botar medo.

Demonstrando simplicidade e sem ser estranhados por isso, presidentes da Áustria e Rússia comeram junk food, em Nova York, em pé e na calçada. Talvez por moda, sinalizando virtude ou na expectativa de colher os dividendos eleitorais, Eduardo Leite — potencial representante da terceira via — replicou, em partes, Bolsonaro e mastigou sua pizza no meio-fio. Só que em Barcelona.

Demorei para comentar isso, sim. Primeiro, que, além disso ser um comentário e não uma notícia, o ocorrido não causou espanto quando o presidente era da Europa. Segundo, só depois Eduardo Leite fez a mesma coisa.

A ascensão social tem que vir junto de algumas sinalizações, daí vêm as lagostas e vinhos premiados do STF. Bom é, tendo um bom emprego no Brasil, comer pizza com a mão, numa espelunca em Nova York, mesmo que na calçada... e rir.


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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