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Velório de D. Morte
Flora Fernweh

Chegavam afoitos, vestindo o luto apressado cuja morbidez refletia a leveza de um velório incomum. Chegou o dia em que o sofrimento da morte se dissiparia, as últimas e derradeiras lágrimas cairiam sobre aquele véu exalando flores, e a dor seria enterrada com todo o remorso de sua grande causa alastrada pelo mundo, em cada canto de vida infiltrada. A solenidade com que se fazia a despedida daquela com quem encontramos assim que anunciamos nosso mais ardil “adeus” para a vida que se encerra, agitou a vida com a repentina alegria angustiante de uma vida sem fim e sem fins. A atmosfera em torno daquele caixão desbotado, guardado há muito, à espera da mais feliz das mortes, era de festa disfarçada em trajes negros. Entre uma lágrima de saudade e uma de esperança, entrecortavam-se sorrisos de uma timidez ousada, que resplandeciam os anseios das almas cheias de vida. Foi-se aquela que já levou mais corações do que todos os corpos que hoje vagam pela Terra, e não se pode saber o motivo do fim de todos os fins, circulam boatos de suicídio, mas eu desconsidero essa possibilidade, pois para que sobressaia a autodeterminação de morte, é necessário no mínimo uma boa dose de vida e todos os pessimismos, prazeres e incongruências que dela emana. Matar a morte é uma audácia de quem a venceu e que está além da vida, ou incorporado a ela, jamais de alguém impregnado de cicatrizes que torna o viver uma tarefa penosa e farta. Assassinato? Talvez. Quem se atreveria? Alguém que pouco pondera os efeitos de sua atitude a longo prazo, e acrescente longo nisso, o fardo da eternidade é mais severo para toda fonte de memória. O que mais importa agora não é saber quem arrancou o ponto final de toda história, mas sim o que poderemos esperar da vida que daqui em diante, se é que ainda podemos chamar de vida o que se sucederá, na monotonia de um ir e vir sem perspectivas de acabar. É duro lidar com a morte, mais difícil ainda não é sobreviver ao mundo sem ela, destituído de um ciclo certo, mas sim reaprender a viver sem o ente fundamental à vida e indissociável dela. O que nos consola é que continuaremos morrendo em vida, seja de amor, de ciúmes, e de saudade, saudade do fim. Todos despertarão um dia, desse sonho que hoje os banha com cantigas de uma vida eterna, para a realidade de que o real é passageiro, e o infinito de uma vida, passa longe de uma dádiva, lembrarão da tarde que os trouxe o sintético aroma da felicidade em forma de uma sepultura rígida em meio às folhas tremulantes pelo vento do eterno amanhã. A existência se tornará irrelevante, teremos que conviver com a sombra de um passado agraciado pela morte, que teve tempo de ficar para trás, não teremos o poder de desvendar todos os mistérios que nos rondam, o invólucro da intriga e o pesar de se encantar com o mundo, cairão por terra como areia se esvaindo em farelos pelos dedos, como mentes impedidas de pensar além e corações duvidosos de seu sentir.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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