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O Voo da Turma do 5º Ano A
No primeiro dia de aula, quando entrei na Sala 06, senti como se tivesse aberto a porta de um viveiro cheio de passarinhos inquietos. A turma do 5º ano A era agitada, ruidosa e brilhante, cada criança lançando perguntas ao ar como se fossem fogos de artifício. Eu ainda não sabia, mas aquele seria um dos anos mais marcantes da minha vida.
Logo percebi que ali havia muitos mundos convivendo no mesmo espaço. Havia quem resolvesse exercícios antes mesmo de eu terminar a explicação, e havia quem precisasse de uma mão segurando a sua, guiando passo a passo. Havia risos fáceis e silêncios profundos. Havia inseguranças escondidas e talentos esperando uma chance de aparecer.
Todos aprendiam de um jeito diferente, e a sala de aula, com seus murmúrios constantes e cadernos sempre abertos, parecia um grande organismo vivo. Para acompanhar aquele ritmo misturado, precisei reinventar minhas aulas: dividir atividades, trocar estratégias, sentar no chão com grupos menores, desenhar, cantar, explicar de novo, rir, respirar fundo, e tentar de novo. Cada pequena vitória — uma conta resolvida, uma leitura fluida, uma mão levantada pela primeira vez — era celebrada como se fosse um prêmio.
Entre os alunos, havia também aqueles que carregavam necessidades especiais, cada um com um universo próprio a ser desvendado. Eles me ensinaram, todos os dias, que inclusão não é apenas acolher: é adaptar o mundo para que todos possam caminhar nele. E, para minha surpresa, a própria turma ajudava a abrir caminhos — dividindo lápis, repetindo instruções, oferecendo abraços silenciosos quando necessário. Aos poucos, aprender se tornou uma construção coletiva.
O ano passou entre desafios e descobertas. A energia que às vezes me cansava era a mesma que movia a sala para frente. A diversidade que exigia paciência também trazia beleza. E, sem perceber, eu via meus alunos crescendo — não apenas nos cadernos, mas no coração.
Quando dezembro chegou, preparei uma surpresa. Levei para a turma uma pipa colorida, feita com papel fino e longas tiras que dançavam com o vento. Coloquei-a sobre a mesa e contei a eles:
— A pipa só voa alto porque tem uma linha que a segura. Vocês também são assim. Podem alcançar grandes alturas, podem sonhar e conquistar o mundo, mas sempre terão suas raízes, seus valores, sua história… e os pés no chão.
Os olhos deles brilharam como se tivessem acabado de descobrir seu próprio poder.
No fim do último dia, escrevi no quadro: “Homenagem ao 5º Ano A — E.M. Edvard Rodrigues de Oliveira. Obrigada por me ensinarem a voar com vocês.”
Saí da sala com o coração leve. Do lado de dentro, as vozes deles ainda ecoavam — turbulentas, diversas, únicas. E eu sabia que, assim como a pipa que guardavam agora como símbolo, aquela turma estava pronta para o vento.
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