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Ao calor do incenso
Flora Fernweh

O ritual místico que acontecia nas noites mais quentes, naquele quarto de aroma inebriante, é até hoje parte de meus sentidos. Ao longe, encontro nas mais antigas memórias sensoriais as meditações sagradas a dois, que acompanhavam o ritmo circular da dança exótica nascida de um incenso enfeitiçado, à baixa luz da lua e do abajur marroquino em cores vibrantes.

Queimava depressa a ardente paixão desconhecida, até o momento em que o vapor bipartido se transformava em um único rastro fumegante e suave, como uma centelha cada vez mais alta. Era imponente a forma como eu poderia me encaixar em você e pender para cada um dos lados, devagar e doce, tornando-me inesquecível aos seus anseios sem sequer ter proferido uma palavra distinguível entre murmúrios. O ardor de minha terra era raro e inexistente nos áridos haréns que tão desoladamente costumavas frequentar, e como uma faísca enérgica e destituída de linhagem, eu te alumiava todo um destino.

Amávamo-nos como se fosse a última das mil e uma noites, éramos bailarinos das volúpias que não se acendem ao calor do dia, aguardando o deságue em tímida mansidão, no esmaecer do crepúsculo que anunciava uma noite de delícias fugidias e de um elo inseparável entre uma alma desértica e um corpo que era oásis. Foi assim, em uma febre da lascívia, que tão despudoradamente entreguei-te minha virgindade moura, à custa de algumas joias que não aceitei.

Deixei-me levar pelos encantos do mundo árabe, em episódios que como esse, se repetiram diversas vezes depois, mas sem a sensação do primeiro contato, cuja picância lembrava uma especiaria distante de minhas reminiscências, mas tão próxima de minha infância agreste, que agora se ofuscava pela fumaça de um incenso que durava o suficiente para ser afrodisíaco do imperioso ato de amor, banhado em magia branca e adoração sublime.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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