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Carta 2 para Sophie Scholl - Out/2024
Vander Roberto

São Paulo de Piratininga, 05 de Outubro de 2024.

Cara irmã, Sophie Scholl:

Como está? Abraços para seu Robert e a dona Magdalena. Inge e Hans estão bem? Saudades! Avise o professor Kurt Huber que os dias por aqui estão chatos sem suas músicas e aulas! Hoje faz 7 anos que perdemos nossa gigante educadora Heley de Abreu. Dia da Constituição no Brasil, a morte da professora e amiga Heley, reflito profundamente sobre os caminhos da Educação em meu país.

Sophie, querida: se Deus filosofou muito para criar o Universo, matematizando sua construção, ele legou ao professor e à professora a capacidade de ensinar sobre o existente! Feliz quem habita este campo e forma a nova sociedade, ampara aquelas em andamento, sorri diante da dificuldade alheia e conduz de forma simples e paciente ao entendimento!

Heley de Abreu educava com exercício de fé, um sacerdócio educacional, preparando os pequenos e pequenas para o amanhã. Não é fácil! Heley é a professora que não conheci, toda professora e professor são meus bons amigos e amigas mesmo que sequer tenha visto uma vez na vida! Eu cultuo quem veste a capa do saber em favor do desenvolvimento humano preparando cidadãs e cidadãos!

O legado da professora Heley de Abreu serve de reflexões profundas que passam não só pela atenção ao cargo docente, atingindo toda política estatal e o fomento para o exercício profissional. Já arrisquei a tarefa ensinando pessoas na área de Tecnologia e hoje quero distância pois não habita mais o desejo. Eu sou o professor do giz e apagador, calça cheia de pó de giz! Não há mais isto.

Estou obsoleto! Eu gosto de desenhar, fazer um boneco palito na lousa verde, puxar uma seta, rabiscar, ficar perguntando e colocando questões nas mentes! Na área de História, eu perguntava como um doido varrido para minha personagem, as pessoas riam e eu também, tirávamos conclusões e depois pesquisávamos em conjunto para vermos se as hipóteses batiam! A aula era uma risada só!

Eu gostava de saber da minha personagem aquilo que ela comia, bebia, vestia, como sobrevivia, quem eram as pessoas importantes de sua época, como eram as relações sociais, políticas, econômicas, quais eram suas atividades de lazer! Quem mandava e quais eram as relações entre países! Por quê aconteceu isto e qual a necessidade de mudanças? Não há tempo para filosofar a História hoje!

Sabe, mana, eu era mais curioso que meus alunos e alunas! Consegui introduzir conceitos de Teoria da História, Historiografia, explicava sobre Anacronismo e como evitá-lo, reunia multi disciplinas nas aulas, não há como ensinar História sem Geografia, Matemática, Filosofia e etc. Transformado em Sherlock Holmes, o detetive, fiquei surpreso ao saber que alguns(mas) alunos(as) optaram pela área depois!

Odiava aulas maçantes! O máximo que havia na minha mesa eram pontos centrais! A viagem dentro do cenário rendia risadas e na aula seguinte eu era bombardeado com perguntas e indicações de leituras! Fiz excursão até em livrarias e bibliotecas com os(as) discentes! Atuando como um Sócrates reencarnado, eu tinha que perguntar! Obviamente, ler era a base de tudo e mapas mentais surgiram nas mãos deles(as)!

Hoje, tudo vem pré-fabricado, condensado, mastigado, formato PDF exaustivo, algo que cansa, Sophie! Concatenar informações, colocar comparações em períodos pedindo diferenças, é algo que estudantes detestam! Eu lamento bastante porque tudo virou decoreba, Sophie! O "Por quê" ficou escanteado! Por quê precisamos ressuscitar a História? Há necessidade disto? Não temos lições aprendidas o suficiente?

Sabe, minha irmã, Heley foi vítima das más políticas públicas que não atendem a Educação! É o salário ruim, pais acomodados, filhos(as) que acham que escola é perda de tempo, professores que tornam-se papagaios de pirata diante da falta de fé em melhorias reais! Eu trabalho no intuito do despertar as mentes! Heley via a luz no fim do túnel e estava certa! Há saída!

Minha querida Sophie: os filhos e filhas desta Pátria mãe gentil não sabem o poder que possuem em suas mãos! Professores(as), pedagogos(as), deveriam estar no centro das atenções nacionais! A revolução começa nos assentos escolares e com livros! O saber pensar é o mais elementar que um(a) docente poderá ensinar para aqueles(as) que virão! Questionar, portanto, é o começo da nova era!

Salve, professora Heley de Abreu!

Beijos, Sophie! Te amo demais! Aprendo muito contigo! Beijão!

Obs.: Há muitos nazistas por aqui. O Movimento Rosa Branca precisa chegar em terras paulistas! Beijos!


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