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São os Loucos Anos 20 - Parte IX
Capítulo 9
Fernanda Rodrigues

Aquele dia que parecia feito de cristal amanheceu envolto em um céu extremamente azul, enquanto uma brisa gelada anunciava a chegada do outono. Os criados ainda sonolentos já haviam iniciado suas tarefas quando o profundo silêncio daquela manhã foi quebrado pelo som de uma voz suave que cantarolava a melodia de uma cantiga infantil tão antiga quanto o tempo e que ecoava por toda a mansão enchendo cada um de seus cômodos e relembrado aos criados mais antigos os dias em que Nina era apenas uma garotinha.

Uma profunda melancolia se abateu sobre todos ao perceberem que era ela quem cantarolava do alto de sua prisão. “Quando a menina era pequena, ela vivia cantando essa canção” comentou uma das criadas com os olhos marejados.

O som doce que evocava um passado feliz despertou o senhor e a senhora Garrilha. O pai abriu os olhos sorrindo como não fazia desde o aquele incidente terrível que o tinha deixado manco para sempre e quando compreendeu que a voz que cantarolava aquela canção era a voz de sua filha teve certeza de que sua menina tinha voltado para ele.

“Nina” - disse levantando-se rapidamente e se cobrindo com o roupão de seda azul enquanto subia os degraus que separavam sua filha do mundo o mais rápido que sua perna ferida lhe permitia, seguido pela mãe que, pela primeira vez em sua vida, deixara o quarto de dormir sem se maquiar.

Quando chegaram à porta do quarto de Nina, se depararam com duas criadas que estavam lá para levar o desjejum e que, ao perceberem que era ela quem cantarolava, não conseguiram fazer nada além de ficar ali paradas, ouvindo aquela melodia que parecia encantada.

Por alguns instantes os quatro hipnotizados pela canção permaneceram apenas ouvindo aquele som suave até que a paz que foi quebrada pelo barulho de vidro estilhaçando.

O pai imediatamente avançou em direção a porta que estava trancada. “Rápido, onde está a chave?” - perguntou às criadas que com as mãos tremulas tentavam encontrar a chave certa no molho formado pelas dezenas de chaves que abriam as dezenas de portas da mansão.

“Rápido mulher!” – disse o pai impaciente e, diante da demora, começou a esmurrar a porta tentando sem sucesso arrombá-la como havia feito alguns meses antes.

“O que está acontecendo?” – perguntou a mãe sentindo que algo terrível estava prestes a acontecer.

Quando, enfim, uma das criadas encontrou a chave certa e a porta foi aberta, o pai entrou a tempo de ver Nina sentada no parapeito da janela, de costas para a entrada do quarto, as pernas soltas do lado de fora, atrás dela o chão estava coberto por cacos daquele vidro espesso que, de alguma forma, ela havia conseguido quebrar.

“Nina... Nina, minha filha, por favor, olhe para mim querida...” – suplicou o pai compreendendo o que a filha pretendia.

Nina olhou uma última vez para trás e sorriu com serenidade.

E, então, subitamente ela se foi, como se sua alma rodopiasse com as folhas que eram levadas pelo vento subindo em direção à liberdade do céu azul e, sendo a morte a cura permanente para as dores passageiras, ela enfim podia voar.

              
                 (CONTINUA)


Biografia:
Apaixonada por livros e agora me aventurando nos caminhos da escrita!
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