Nada dava certo na minha vida, nada fazia sentido, tudo que eu tentava dava errado e sempre que eu errava parecia que todos riam de mim, o que me deixava muito abalado.
Sei que você e todos esses seres que se dizem racionais acham que isso não é motivo o suficiente para, dizendo da forma mais simples, pirar. Há alguns anos eu pensava assim, mas agora minha linha de raciocínio mudou e se você fizer muito esforço para se colocar no meu lugar, talvez, me compreenda.
Eu, simplesmente, não sei o real motivo por trás da minha atitude, acho que simplesmente explodi e ele foi a válvula de escape. Sim, é verdade, matei ele sem nenhum motivo aparente.
Para realmente entender, voltemos algumas semanas antes do (in)feliz dia (para ele, somente para ele).
Eu tinha acabado de ser aceito em uma empresa e por ser o novato era obrigado a engolir sapos todos os dias, principalmente com o chefe. Já tinha imaginado a morte dele de várias maneiras diferentes.
Meu relacionamento com a Natasha tinha acabado a muito tempo. Só estávamos juntos para brigar. Ela me irritava tanto, que fiquei a ponto de estrangulá-la enquanto ela dormia.
E pra ajudar na série animada que minha vida se tornou, o síndico do condomínio resolveu dar em cima da minha mulher descaradamente. Apesar das brigas, ela ainda era minha e ele também merecia ser jogado no poço da morte.
Com tudo isso e muito mais, a minha tigela da paciência, calma e compreensão ficou totalmente esgotada. Sem nenhuma mísera gota para salvar a pátria.
Ele ligou me chamando para sair, para beber, esquecer os problemas. Um erro.
Sábado à noite. Dois bêbados na praia deserta. Um chamando o outro de idiota, dizendo que ele não presta pra nada. O outro com um canivete na mão...
Susto...
Sangue...
Grito...
Satisfação...
Polícia...
Jaula...
Tudo vindo em fleches para mim.
Não me arrependo. Estou livre enfim.
Vendo o milagre do sol nascer quadrado.
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