Compreendi: são as minhas asas que se espreguiçam quando sinto algo diferente nas costas. Asas que desejam voejar para longe, longe deste emaranhado de fruta pobre. São asas de cisne acusadas de serem um pato de marca falsa como as malas de Yves Saint Laurent à venda em feiras com bailaricos. Nadei demasiado longe, longe: morri afogada, foram aranhiças que me salvaram, aranhiças de águas profundas que me disseram: és profunda como nós e tens um ser selvagem dentro do teu azul. Observo: são asas azúis que apenas desejam florir num mundo melhor longe, longe da fruta podre. Para que me servem as asas se não sei voejar? Quando tentei parti os duzentos e seis ossos que me constituem, o crânio impulsivo ficou estilhaçado e o meu fraco coração deixou de bater. Os músculos quase insignificantes puxaram-me outra vez para cima, de pés assentes na terra descortinei que as minhas asas estavam descosidas. Não sei coser e nem sequer sei para onde elas me poderiam levar, quero habitar num mundo melhor, pergunto-me: e se ficar para sempre a apodrecer no meio da fruta podre?
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