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ESTA TARDE FUI MENINO |
Rodrigo Cabral |
Algo mais se descortinou diante de meu olhar hoje
Uma vaga e mera ideia do passado que voltou
Um antigo e já esquecido sorriso que tomou posto em meu rosto
Ao meu redor a cidade seguia sua rotina
Já era tarde...
Uma da tarde... talvez duas...
Quem realmente percebe o tempo?
Tantas decisões a serem tomadas antes do dia findar
Tanto em que pensar...
Tanto pelo que se preocupar...
E minha mente jaz não mais totalmente minha
Uma memória incivilizada criando tumulto nas avenidas de meu raciocínio
Pensamentos encadeados regredindo...
Voltando ao passado
A tela do computador mostrando pra mim seus números e cores
Implorando uma atenção que seria dela por direito, mas que hoje foi usurpada.
Meus olhos hoje não enxergam mais o presente
Meu olhar agora é pretérito
Eu vislumbro acácias jovens em um bosque tão conhecido
Ouço as crianças correndo entre as arvores
Rindo...
Protestando...
Elas chamam por nomes já há tanto tempo sumidos
Elas também chamam por mim...
Mil aventuras e projetos nascem e morrem quase instantaneamente naquelas cabecinhas infantis
Dragões derrotados e princesas salvas
Heróis da TV em nosso socorro
Mistérios que mudavam
Planos que se faziam fáceis ante o fato simples de que nunca seriam implementados
Tanta graça e leveza
De minha cadeira naquela hora vespertina eu sondei de novos os córregos
Eu escalei de novo os morros
Eu subi nas mesmas arvores
Eu ri novamente de antigas piadas
Ali no meu acento tão impessoal
Eu ouvi outra vez secretas confissões de amigos que hoje já não tenho
Eu gargalhei de suas tolices serias
Eu confessei todos os meus medos e desejos juvenis
Eu fugi dos valentões que sempre me perseguiam
(há o preço de ser o gordinho da turma)
Eu briguei pelos companheiros
E briguei por mim mesmo...
Esta tarde diante desta maquina tão profissional e impensada naqueles dias eu chorei de novo as minhas pequenas tragédias de criança
Eu quis de novo o doce colo da minha mãe
Eu pensei de novo na severa proteção de meu pai
Esta tarde por alguns instantes...
Não sei quantos...
Eu viajei ao passado que durante tanto tempo, tempo demais... em minha vida adulta eu simplesmente esqueci que existiu
Por meros e precisos minutos eu rompi as eternas e míticas barreiras do tempo
Voltei a ser criança
Voltei a ser menino...
Fui feliz.
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