"Multidão é meu nome
e a minha liberdade,
a de estar vivo."
Carlos Nejar
Eu espero que o mundo mude, mas não espero muito do mundo: a mudança me escapa e me ultrapassa. Então devo apenas esperar de mim, mas sou só apatia. Vontade me falta. Não quero ver beleza na miséria, nem trazer a gentalha para o jantar. Não levo jeito para "Viridiana": minha esquerda é mais à destra.
Cansei de mergulhar no pensamento cuspido dos outros. Deixei de ansiar poesia quando morri eternidades. Deixei de abrir a boca quando me mandaram falar. A liberdade como ordem do dia é tão vil quanto a ausência de liberdade. Dar-se ao mundo é subtrair-se de si mesmo, morrer um pouco, em cada gesto: livrar-se do peso morto, do corpo e da alma. E respirar sozinho sob árvores secas. "Por que é assim?", pergunta a criança tola, cheia de inocência e perversidade. Fruto de Deus e do pecado. Monstro polimorfo de nossas fantasias imorais: o fantoche da modernidade. Passarão, com o mundo, pelo mundo. Alegrias e nobres virtudes da comédia do carnaval.
Esperanças dançando, velhas canções de ninar. A infância tecendo o destino, já velha e cega. Flutuando em meu corpo, meu peito... de sonhos distantes.
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