O amigo invisível.
André Francisco Gil.
25/02/14.
Não verei o amanhã.Não comi nada até agora.Resistência.Resolvi olhar para as paredes.
O futebol já havia começado porque podia ouvir o burburinho,a algazarra.Gritos.Fiquei
intertido com meu tablet.
Você (amigo invisível) ainda não chegou.Desta vez não me enviou sinais.Risos.De onde vieram?
-Vejo que já não tem mais casa.
-Começou a temporada de protestos contra a arena!A paz do sultão acabou!Vamos aos protestos.
-Por seres arredio te trancafiaram nesta prisão?
-Tô nem aí,eu gosto de luta,de degladiar,foda-se o reino,esse evento não se faz com
educação nem saúde.Sou a favor de ficar tudo do jeito que tá.
Será que continuarei preso?Isso é por culpa dos protestos.Eu nem estava no meio.Fui pego porque estava na hora errada no lugar errado.Sabão era pouco para lavar minha bo
ca suja.Palavrões lançados como bomba de efeito (i)moral.
Se bem que eu poderia nem ter passado naquele local naquela hora.E você (amigo invisível) me vendo (filmando) como se fosse uma novela.Eu me senti um palhaço de circo,se é que ainda existe circo.Não entendi porque fiquei com as pernas tremendo.
Travei,não saía do lugar.Fiquei,fui pego.Sou contra a guerra,a baderna,sou a favor da paz.Fui confundido com um manifestante.Não respondi as manifestações objetivas do meu cérebro.
O tempo aqui vale muito.Daqui nem vejo a longitude desta terra.Nem sei se é segunda ou em que dia da semana estou.Não há calendários.Se morrer aqui já estou dentro da mi
nha sepultura.Eu já protestei quando era estudante contra a educação bélica deste reino.
E numa temporada de descobertas percebi que o sultão não queria pessoas inteligentes para simplesmente não conspirarem contra seu reinado.
Este é o trecho da insatisfação.Assim permiti aos meus olhos,pela primeira vez,que derramasse suas lágrimas.Assim não represo as mágoas e as tristezas dentro deles.
Estou próximo de muitos murmúrios.Há uma movimentação lá fora.Muitas vozes falando em atropelo.
-Acabou,liberte os prisioneiros.
-Gente que entende ironia é outro nível.
-Grande verdade e olha que isso existe a muitos anos,o coliseu é um exemplo de pão e circo.
-Você é lenda mestre,sempre educado,gente boa,legal demais,sempre apto para uma batalha.
Senti-me no alto,como uma nuvem.A saída sublime,suprema.Ainda bem que não me atiraram ao centro da arena.Os gladiadores do coliseu são outro nível.São extremamente impiedosos,sanguinários.Enquanto ia perambulando de encontro a porta de saída eu desconfiava de minhas vestes.Não haviam tirado o uniforme da prisão.
-Vá para casa e não quero vê-lo mais metido em confusão.
-Estás livre.Socorrido.-sussurrou uma voz.
Era o amigo invisível.Hoje a ironia escreveu este capítulo.Não tudo.Valeu-me o silêncio pacífico da minha consciência.
Você apareceu para que eu não enlouquecesse.E ainda me salvou da dona loucura.Cara eu não nego,te agradeço de coração.
-Sim sou uma coisa invisível.Mas meu assunto é dar conselhos enquanto se tem ouvidos.
-É mas essa mentira do sultão é matéria que tanta gente protesta e detesta.
Reuni os meus sentidos e ri.Cara,que risada.Só mesmo a sensação de liberdade pode causar isso.Memorizei a supremacia da cena.Não teve outro jeito.Você e eu (amigo invisível) começamos uma amizade duradoura.
Conseguimos.Adiantei minha roupa nova numa tenda de tecidos.Quem gosta da verdade sabe que não é qualquer ilusão que a convence.Veja que a tua verdade ninguém tira,não toma,nem rouba.
Viajei.Atravessei o território das bestasferas.Legal,por onde passei vi mestres ensinando suas diversas técnicas de combate aos seu discípulos.Encerrei meu dia comendo um pão seco com água.Gente como fiquei quebrado,encerrado naquela prisão.
-É foda.
Como as imagens aqui fora são solares,lunares,elas tem todas as tonalidades da liberdade.
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