Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Trabalha, Negro, Canta e Dança
Orlando Batista dos Santos

Ninguém duvida que foram os negros quem construíram o Brasil. O trabalho, que hoje “dignifica o homem”, antigamente era tido como humilhante, condição que os “homens bons” jamais poderiam aceitar. E se o negro construiu o Brasil, construi também Minas Gerais, observação necessária, já que a História insiste em omitir, esconder a importância do negro naquele Estado que teve quilombos e uma monarquia não branca, representada por Ambrósio, tendo como súditos, negros fugidos das minas e dos engenhos, negros forros, índios “mansos”, brancos pobres (os pés-rapados) e toda uma gama de mestiços. Tal qual Palmares, os quilombos mineiros foram atacados e, tal qual Palmares, foram destruídos com vigor e crueldade.
No Brasil, além do exercício do trabalho rude, o negro desenvolveu pendores para as artes e para as manifestações rítmicas de sua alma, pois sem ritmo não há vida. E fez do canto e da dança um remédio para compensar seus sofrimentos.
Os cantos de trabalho, ainda hoje são chamados de “vissungos”, que dividem-se em “boiados”, solo tirado pelo mestre, e o “dobrado”, que é a resposta em coro dos demais. Geralmente, os próprios instrumentos de trabalho faziam o acompanhamento.
O negro cantava o dia todo. Tinha cantos especiais para a manhã, para o meio do dia e para a tarde. É dos vissungos a origem das tradições dos desafios e repentes.
As festas religiosas das confrarias de negros e pardos não satisfaziam de todo a vontade de cantar, de dançar e batucar; os cantos de trabalho limitavam-lhes a expressão corporal e a criatividade. Por isso, à noite, com ou sem autorização do “sinhô”, a maior alegria do negro era sua participação no batuque, sempre proibido, mas que nunca deixou de se realizar.
Foi na venda que o batuque criou fama. Má fama: as maiores reclamações eram sobre as desordens e brigas verificadas com muita freqüência. Embora proibido aos pretos e à gentalha, o batuque acabou chegando, ora pois, às altas rodas de Vila Rica, contrariando orientações da igreja que, via de regra, ameaçava com excomunhões; os dançadores formavam uma roda e, ao compasso de uma viola, moviam-se um dançador no centro, que, ao avançar, batia com a barriga em um integrante (geralmente do sexo oposto) que o substituía no centro da roda. Eis aí a granfinagem reproduzindo a umbigada.
O batuque sobreviveu, animando as vendas e as festas de gente pobre. Num determinado momento, passou a ser chamado, pelos ricos despeitados como “forrobodó” (forro: de forro, ex-escravos; bodó: de bode, cheiro de bode, de preto ou de cabra; cabra era o mestiçado com o negro).
Como se pode concluir, o batuque, tendo a venda como berço, com sua maravilhosa indecência, onde a fuzarca, as brigas e as insolências, as cabeças quebradas e os derramamentos de fatos (tripas) eram comuns, tornou-se um elemento precioso das raízes culturais brasileira.
Quem gosta de samba e forró (e há quem não goste?), em qualquer canto deste país, não pode esquecer da contribuição desses ancestrais dos brasileiros.


Biografia:
Estudioso do Folclore e da Cultura Popular de raízes caipiras. Autor do livro Heróis Caipiras. http://www.clubedeautores.com.br/book/119026--HEROIS_CAIPIRAS Presidente da Associação de Produtores da Agricultura Urbana de Campinas e Região. Blog: http://aproagriup.blogspot.com.br
Número de vezes que este texto foi lido: 52998


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Poema do Nascimento Orlando Batista dos Santos
Crônicas CAIPIRAS EM GUERRA Orlando Batista dos Santos
Contos SEO DONATO Orlando Batista dos Santos
Artigos OS ANIMAIS E A SABEDORIA POPULAR Orlando Batista dos Santos
Crônicas Trabalha, Negro, Canta e Dança Orlando Batista dos Santos
Artigos FOLCLORE - CHUPA-CABRA: O NASCER DE UM MITO Orlando Batista dos Santos
Crônicas OS MEDOS DA GENTE Orlando Batista dos Santos
Poesias ENGENHO NOVO Orlando Batista dos Santos
Poesias FELICIDADE É... Orlando Batista dos Santos
Contos SACI, OU O DEMO EM PESSOA? Orlando Batista dos Santos

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 17.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68968 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57889 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56704 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55780 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55016 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54891 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54827 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54792 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54706 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54691 Visitas

Páginas: Próxima Última