O que levaria um rapaz de 20 anos, bonito, extremamente envolvente, capaz de despertar suspiros nas garotas e levar milhares delas ao delírio com exposição de fotos em sites de relacionamento social a se envolver com outro homem, de 65 anos, colunista social dos mais respeitados de Lisboa, figura marcada na mídia nacional, e a ele assassinar num ato bárbaro, covarde, cuja crueldade ultrapassa todas as fronteiras mais permissivas da compreensão humana? Ambição, poder, dinheiro, fama, interesses escusos …ou tudo isso junto? Quais as chaves deste mistério? Pois é isso que os portugueses, estarrecidos com a notícia, anseiam desvendar, ainda que tudo isso custe caro e se aproxime cada vez mais de roteiros hollywoodianos pouco originais e de qualidade duvidosa.
Para compreenderem melhor este relato, vamos aos fatos: no ano de 2010, a SIC, uma das maiores emissoras de tevê do país, promoveu o programa "À procura do sonho” - uma espécie de competição entre garotos, para saber quem seria o modelo perfeito do homem português, candidato a ídolo da galera, que serviria aos interesses capitalistas do mundo fashion, emprestando sua beleza e seus poucos minutos de glória a todo tipo de variante comercial. Nesta competição estava Renato Seabra, estudante de Educação Física (Desporto) da Universidade de Coimbra, que desde o início, segundo relatos da própria produção do programa, chamou a atenção de Carlos de Castro. O rapaz não levou o prêmio do programa - como esperava, mas outro, de maior valia, cobiçado por dez entre dez aspirantes ao posto de novo Deus do Olimpo: a amizade do colunista.
Provavelmente sua beleza surreal, estonteante, como afirmavam moças ensandecidas ao vê-lo só de sunga nas passarelas, tenha despertado sentimentos confusos dentro do coração do colunista, homossexual declarado.
Mesmo não consagrado campeão, o jovem foi alçado ao altar da fama, quando apresentado às altas rodas lusitanas na companhia de Castro. Eram apenas amigos, diziam. Uma amizade no mínimo curiosa, certamente, porque, segundo fontes locais, graças as boas influências do socialite, Seabra fechou contratos com marcas famosas, foi capa de jornais, revistas, tema de programas televisivos, fofoca na boca do povo… Enfim, uma estrela. A ESTRELA-MOR de uma constelação narcisista, incapaz de distinguir beleza de inteligência, fantasia de realidade.
O postulante ao cargo fictício de rei da Terra do Nunca acompanhou o colunista a diversas viagens ao exterior, a última, inclusive, a Nova Iorque, precisamente em 29 de dezembro de 2010, quando se hospedou, na companhia do “amigo inseparável”, no 34º andar do Hotel Intercontinental, um dos mais luxuosos da cidade. E foi lá, naquela bela suíte, que Carlos de Castro fora encontrado caído ao chão, inconsciente, com sinais de agressão na cabeça, marcas de estrangulamento e mutilações sexuais.
Acionada, a polícia divulgou a imagem do manequim, que, para espanto de todos, havia sido internado na ala psiquiatra do Roosevelt Hospital, horas antes da revelação do crime pela estação de televisão nova-iorquina Ny1, com cortes no pulso – sequelas de uma suposta tentativa de suicídio. No momento, Seabra se encontra preso à cama, sob escolta da polícia. Assim que se restabelecer, será julgado pela Corte Americana, acusado de homicídio doloso – quando se há a intenção de matar, com requintes de crueldade. Se condenado, passará a vida toda atrás das grades (teve sorte, poderia ser a pena de morte, como reza a lei de outros Estados).
Na tentativa desenfreada de evitar o inevitável, a família nega o envolvimento do modelo com o colunista e aproveita o espaço concedido pela imprensa marrom para enaltecer o caráter dele, tratando-o por responsável, cordial, incapaz de ferir uma borboleta quanto mais um semelhante. A quem quer enganar? A si própria! Afinal, melhor manter como lembrança a imagem ingênua de um “viajante sonhador” a acreditar que este mesmo “sonhador” nunca deixara de sonhar-se criminoso. Cruel? Não, apenas real
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