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Quem matou o Brasil?
(Reflexões sobre o mundo contemporâneo - parte 5)
Roberto Queiroz

Quem matou Pixote? Quem matou Aracelli? Quem matou o filho da Zuzu Angel? Quem matou Vladimir Herzog? Quem matou os menores da chacina da Candelária? Quem matou Amarildo? Quem matou Marielle? Porra!!!!!

Quem matou o Brasil? Isso sim precisa ser respondido, gritado, exaltado aos quatro ventos, expurgado, e nem sequer nos perguntamos.

Já disse isso num outro artigo e repito aqui com mais ênfase: somos uma nação de estatísticas. Pior: somos estatísticas vazias, sem fundamento, que não são investigadas por motivo algum. E nos acostumamos a isso...

Bastou pouco menos de quatro anos para que um grupo de pouco mais de cinco centenas de ladrões vestindo exuberantes ternos-e-gravatas transformassem um país que só pensa no futuro (apesar de não dar a mínima para o presente, que dirá o passado) num pocilga de proporções estratosféricas. E tem gente (acreditem!) que bota a mão no fogo para dizer que "agora está melhor, agora a coisa vai!".

Somos uma sociedade esquisita: não fazemos questão de aprender nossa própria língua, nosso próprio hino, muitos não sabem o que está escrito na bandeira nacional, não nos importamos nem um pouco com nada que tenha a ver com ética, caráter, honestidade. E, no entanto, diante de uma partida de nossa "seleção" (cada dia mais internacional) posamos por um minuto de patriotas por empréstimo, mãos ao peito, camisas amarelinhas recém-lavadas, lágrimas no rosto.

Somos culturalmente atrasados, invertidos, virados de cabeça para baixo e nos orgulhamos de nossas "características". Só não sabemos para que elas servem mesmo.

E não bastasse tudo isso dito (e perguntado) acima, pioramos. E muito. Vivemos a falência de um país que, na prática, nunca aconteceu de fato. Só prometeu. Aliás, adoramos acreditar em promessas. Os políticos que o digam. Trocamos nossa ética por qualquer par de óculos, cesta básica, exame médico, empreguinho meia-boca sem benefícios. Queremos estar inseridos.

Não importa se o chefe, patrão, diretor, supervisor, é corrupto. "O importante é meus filhos na escola e comida na mesa", disse a senhora de idade, desdentade, que acha o Brasil o melhor país do mundo para viver, entretanto está com consulta marcada no médico apenas para abril de 2020 e mais de 50% da família vivendo de bicos e favores escusos.

Quem matou o Brasil foram eles, os donos do poder, ou nós mesmos, nossa ignorância, nossa eterna mania de apenas rezar, esperando por dias melhores ou messias milagrosas, saídos detrás de alguma nuvem de fumaça ou luz estroboscópica? Pego-me perguntando de quando em quando a respeito disso e me dá uma vontade atroz de optar pela segunda opção.

Pensem: eles nunca nos enganaram, nunca disseram que iam fazer algo pelo povo. Eles prometeram. É diferente. É como a cartinha que você, eu, nossos amigos e vizinhos, mandamos para o Papai Noel (naquele tempo em que os evangélicos não reclamavam de tudo) e pensamos que ele tinha respondido. Ele nunca nos disse que daria exatamente o que pedíamos na cartinha. Mas queria que fôssemos bons meninos, obedientes, não faltássemos a aula, etc e tal.

O Estado deseja o mesmo: que sejamos bons meninos e meninas, orgulhosos de nosso caráter e virtude. Que façamos o certo, não importando o resto. Ser ético acima de tudo. Para quê? Para que, Eles, gestores, nunca sejam. E continuem aprontando das suas.

E depois me perguntam por que eu não acredito em política partidária. Você, meu caro leitor, deixaria de fazer por si mesmo, abriria mão de sua independência financeira eterna, para cuidar dos outros? Digo: abriria mão mesmo? (Talvez muitos parem de ler este artigo aqui, corroídos por sua própria demagogia).

Feita mais esta pergunta sórdida, e carente de respostas neste país Peter Pan, evasivo e cheio de marra para com seu semelhante, encerro essa reflexão - ou será melhor chamar desabafo? Opa! Mais uma pergunta - por aqui. Só me resta, enfim, a ironia de imaginar o que nos aguarda na próxima esquina. Outubro está chegando, minha gente! E eu tenho até medo de ver o resultado.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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