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Até nunca mais
oscar silbiger

Tive um desejo capenga,
daqueles que a gente nem dá bola, nem dá recado,
um desejo meio saci, meio cigano, meio beltrano,
mas que ainda me tinha nos seus dentes, nas suas trancas, nos seus porteiros da noite.

Chegou de mansinho, como quem vem só pra um café,
falando como se tivesse caindo pelas tabelas, tadinho,
na verdade, não sabia nem de onde vinha, tampouco pra onde seguia.

Veio perguntando como estava a vida,
se faltava alguma coisa em casa,
se o tempo iria virar, se o jogo de ontem deu empate,
se estava tudo em ordem com a turma, coisas assim.

Desejo moleque, matreiro como ele só,
não estava só matando o tempo, ou batendo o cartão de todo dia,
não mesmo.

Também não estava em final de jogo, e nem, tampouco,
se fazendo passar por outro comparsa, por outro engolidor de espada da vida, por outro alfaiate acabando de alinhavar a manga do colete.

Parecia águia que acabara de rasgar o atalho ao bico de sua mãe,
parecia um cheiro que perdera sua forma e, agora, teimava em voltar para a barriga original, para aquela pocilga que um dia fora ternamente imaculada, um dia fora aquele último pedido do condenado à morte.

Como uma régua medida com passos de anão bêbado, como um nódulo que aumentava mais e mais a cada minuto, parecendo que iria explodir, parecendo que iria gozar naquela hora, não dá mais para segurar.

De repente, ele parou de procurar a si mesmo, sentou naquela calçada encardida de todos nós e chorou, vixe como chorou o cabra.

Chorou tanto que fez a água do mundo entornar de si própria, afogando a tudo e a todos, enchendo Noé de inveja, sério mesmo.

E quando não lhe restava uma réstia sequer de sangue, ou de mortalha, ou de canalha, ou de sei lá mais o que,
não teve outra coisa a fazer nesse mundo de meu Deus.

Catou sua trouxa, suas tralhas, traças e taças,
se recostou do meu lado mais safado, mais alado, mais menino,
mais fingido.

E deu boa noite para quem estava na platéia daquele circo sem lona,
sem serragem, sem palhaço, sem fronteira, sem cobertura de bolo.

Olhou firme para aquela infeliz que estava sentada na primeia fila,
acho que desde quando começou os nossos dias,
acho que desde quando percebi que poderia respirar sozinho, que poderia errar algumas teclas do piano,

acho que desde quando decidi levar para casa aquela menina tremendo de frio numa esquina fria qualquer,

acho que desde quando beijei meus filhos dormindo pela primeira vez, ou pela última vez,

e fui embora para sempre, para nunca mais.

Até nunca mais, baby.


Biografia:
Tenho 51 anos e sempre gostei e tive facilidade para escrever, construir e contar histórias. A minha relação com o texto é puramente lúdica, livre e extremamente agradável. Talvez seja por isso que consiga transitar em diversos campos, contos, poesias, publicidade, etc. com grande facilidade. Hoje estou retomando um trabalho pioneiro no país, iniciado em 1981: escrever histórias de vida de pessoas não famosas, produzindo um único exemplar (ou mais exemplares, se for necessário) de um livro contendo as suas fotos e textos (inclusive poesias) especialmente desenvolvidos por mim para valorizar cada momento retratado. O acabamento será digno dos livros de arte, sendo entregue numa exclusiva caixa em madeira MDF. Essa iniciativa que já completou 28 anos tem sido motivo de inúmeras reportagens no Brasil e exterior (jornais, revistas, rádio e TV), conforme poderá ser visto nesse link http://www.terra.com.br/istoe/comport/150417.chtm O meu telefone é (19) 9267-9766 e e-mail getleadsbrasil@globo.com Tenho uma metodologia para atender interessados de todo o país com grande agilidade e custo extremamente acessível. Viver é importante, mas preservar a experiência é fundamental.
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