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LIRA EO NASCIMENTO DO SEGUNDO FILHO
Donária Salomon

Nascimento do Segundo Filho

Em novembro engravidou, como da outra vez não fez pré-natal. O pai que fazia companhia aproveitou o terreno para capinar, cavar a terra e plantar, tinha um grande apresso para cultivar, auxiliado por Lira passavam horas plantando: guandu, couve, salsas, cebolinhas... O menino regava as plantas e ficava horas de joelhos no canteiro, imitando o avô fazer covas com as mãos, agradavelmente sujo da macia terra preta. Após o almoço Sílvio voltava ao trabalho enquanto o pai e o menino dormiam. Lira aproveitou o sossego colocando tudo em ordem novamente. Estava com uma eufórica alegria, uma ternura contagiante, delirava diante daquela felicidade que havia sonhado embasbacada por ter concretizado as esperanças que agora raivam. Não foi sua impressão, realmente entrara num mundo novo, e encontraria novos problemas, sondando seus pensamentos ocorreu-lhe uma interrogação silenciosa e obstinada, porque só o vejo alegre e brincando quando estamos sozinhos, se chega algum dos meus familiares, com a ressalva de papai que sempre estimou apegando-se, elogiando o caráter bom e sua sensatez, sem contar com meu contentamento em tê-lo junto a mim. Refletiu ainda alguns minutos, Cantarolando a música da trilha sonora do filme Lawrence da Arábia que havia esperado uns cinco anos, após o lançamento até que chegasse ao cinema local, estirou-se na cama e adormeceu profundamente que não ouviu o seu pai chamá-la enquanto a tarde caía. E só despertou quando o filho se achava montado na bicicleta no meio do quarto. Estava à costumada a sentar-se embaixo da amendoeira do portão ao lado do seu pai, e assistir as pedaladas do menino, ainda com rodinhas de proteção...
À noite Lira o indagou o porquê de sempre se calar, não tecer comentários na presença de outras pessoas, responder sempre com uma palavra no máximo duas. _É por causa do que houve! você sente vergonha? Depois de ouvi-la a abraça como se esperasse por isso a muitos e muitos anos, como se fora encontrado, depois de haver se perdido vagando sem rumo no vazio à procura de algo que só o inconsciente sabia, e de repete alguém o encontra e o lembra que não está sozinho que é importante e o valoriza. Nesse momento ele aperta seus ombros, ficam tão próximos um do outro que Lira sente fortes seus batimentos cardíacos. Sentimentos o oprimiam acometido de comoção, tão forte que só fazia chorar... Soltou o ar pausadamente, quando balbuciou: O papai... Engasgou, estancou como se uma pedra rolasse para sua frente e não pudesse dar nenhum passo na vida do homem livre que gostaria de ser. Seu pai não pode ajudá-lo, morrerá quando completou doze anos. Nesse dia sentou-se no primeiro degrau da escada que sonhava subir, ali ficaram todos os sonhos de pré-adolescente, pois não viu a possibilidade de continuar os estudos. Os irmãos cerca de dez anos mais velhos, não atentaram para a turbulência que balançava o cérebro do menino – homem ainda de calças curtas, o irmão constituiu família,   imbuindo de seus problemas, não compreendia o carinho que a mãe dedicava ao menor, à irmã foi para o convento. Teve ás duras penas traçar sozinho o seu caminho. O dia raiava, essas amarguras tinham que ser vencidas por isso corria atrás do sucesso. Como vendedor destacava-se, não pedia, nem usava prestígio social de ninguém para obter boa colocação.
Após o café dessa manhã o pai de Lira puxa conversa: _ O Sílvio! Que tiroteio danado, na “Giringonça”, menino parecia à terceira guerra mundial!
O casal se olha ressabiados por um estante, quase que de imediato Lira responde:
_ É a televisão que nós deixamos ligada lembra?
Mais tarde quando estava só com a filha, satisfeito: _ Acho muito bom saber que vocês conversam, conversando é que agente se entende gostaria de conversar, mais tenho muita vergonha, gosto de escutar, mais o Sílvio quase não fala.
_ Pai, ele fala o dia inteiro convencendo clientes.
Inconformado: _ É minha filha queria ter força e saúde para ajuda ele a vencer.
_Sossega que o senhor já fez bastante. É vamos agitar que hoje é sábado, vamos cortar os cabelos, as unhas para esperar o outro neto!
_ Será que dessa vez vai ser uma menina?
_Hei velho vai ter que se contentar comigo...
24 de agosto de 1972, uma quinta-feira nasceu de parto normal, mais um garoto forte e saudável, mesmo assim os médicos voltaram à enfermaria preocupados, com a retenção de liquido e a inchação das pernas, devido o abuso com o sal e os doces que comia a sua vontade. No dia seguinte, em casa o cheiro de neném inebriava o ambiente, Sílvio a abraça e gosta do cheiro e da maciez de sua pele. Lira explica que foi o inchaço... _E esse cheiro gostoso? Ele pergunta. _ É de neném! Ela responde. O menino foi batizado pelos tios maternos Elias e Olinda com o nome de Laurence, escolhido por Lira. A satisfação de Sílvio era percebida por todos os aspectos, até na hora de ir trabalhar, sabia que precisava vender e ganhar mais para o conforto de sua família.
Nesta ocasião o Sílvio levou em sua casa o amigo de vendas Abdinai e sua esposa Raquel, que também tinham dois filhos o primeiro Franklin da idade do Nardele e o segundo menino se chamava Delano os nomes assim escolhidos, pois era a pretensão do casal em homenagear Franklin Delano Roosevelt quando viesse o terceiro. Desse encontro começou uma grande amizade.


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