Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
VIDA E MORTE
Sílvio Barbosa de Oliveira

Resumo:
Reflexões do autor sobre os mistérios da vida e da morte a partir de suas experiências pessoais.

VIDA E MORTE                                                           



Senhor: rendo a ti a minha reverência, após tantos anos de relutância em reconhecer a tua magnificência, a tua majestade e a tua natureza. Seis décadas se passaram nesta presente vida sem que eu pudesse, por um instante sequer, contemplar com os olhos do corpo ou da alma o espírito amoroso de tuas obras.
O sofrimento que pautou a minha vida até hoje, desde a tenra infância, tanto material como espiritualmente, é nada se comparado às atrocidades que cometi em outros tempos. E, a tua piedade para comigo nunca faltou, em momento algum, mostrando-me o caminho da retidão, que eu sempre me recusei seguir. E agora, nesta nova senda de vida repeti incessantemente os mesmos erros de outrora, mas tu não me tiraste a oportunidade de aprender, pacientemente puseste em meu caminho os teus anjos conselheiros como jardineiros regando diariamente a semente que estava plantada em minha alma.
Hoje entendo que quando permitiste que na minha infância permanecesse retida em minha memória a terrível lembrança de uma outra vida tão precocemente ceifada e de forma tão brutal, tinhas em mente uma grande obra a ser realizada. Esta, entretanto, ainda não é do meu conhecimento. Apenas consigo vislumbrar, por intuição, que quando me uni à matéria deste mundo deveria purgar as minhas faltas através do sangue de meus pais ( ou as deles ), porque “Deus pune os pais nos filhos”, não injustamente como possa parecer, mas para que tanto estes quanto aqueles ascendam em direção ao seu Reino de Paz.
Dizem alguns que quando a vida de uma criança é interrompida, a ela é reservado um lugar especial no céu, onde ela não desfruta a felicidade celeste, mas também não sofre as dores do purgatório ou do inferno. Dizem também, estas mesmas pessoas que a esta criança é dada uma nova oportunidade na terra para que possa desenvolver todas as suas potencialidades e ao mesmo tempo redimir-se de suas culpas, à partir do ponto onde parou. Nisto eu creio. Pois não seria mera coincidência que tendo a minha vida sido arrebatada aos doze anos de idade, a nova só tivesse sido retomada à partir deste ponto. Refiro-me à vida anímica, porque a física iniciou-se instantaneamente após a primeira lufada de ar que ingressou em meus pulmões. Deste momento não guardo nenhuma lembrança, a mais antiga que tenho é de incontáveis vezes que a asma impedia que o ar penetrasse livremente nos meus pulmões e, quando extenuado pelo esforço físico conseguia fazê-lo penetrar pelas narinas, descer como brasas acesas pelos brônquios e chegar unicamente à parte superior dos pulmões, ele de lá se recusava a sair. Um novo esforço então era necessário, tanto quanto o primeiro, para me livrar daquele ar parcialmente carbonizado. Ouvia-se então um assovio, sinal de que o ar estava sendo expelido. Depois um ronronar no peito... A tosse... O quase desfalecimento.
A doença é irmã gêmea do pecado. Então, por dedução lógica eu pequei antes de completar a primeira infância, antes mesmo de tomar consciência da minha existência.
A criança é inocente, no mais amplo sentido da palavra, e isso vale tanto para a lei dos homens como para a lei de Deus. Assim sendo não me restaria alternativa a não ser acreditar na existência de vidas anteriores, mas isso seria unicamente uma crença se eu não tivesse vivo na lembrança acontecimentos desse período, inclusive o último segundo de vida e o que se sucedeu logo após este acontecimento. Como se isso não fosse bastante ouve também a comprovação de um lugar onde vivi e a constatação de que ali viveu durante algum tempo um menino com as características que eu possuía.
Nisso e por isso baseio a minha certeza na reencarnação das almas, mas esta certeza não é de agora, há muito sustento esta convicção, entretanto não conseguia entender onde se escondia a alardeada Bondade Divina. Que deidade era essa a quem os homens, seus filhos, atribuíam a expressão máxima de amor e bondade? Esse deus alguma vez condenou toda a humanidade a conviver com a dor e o sofrimento? Que valia tem para um homem uma vida inteira ( ou várias ) de padecimentos, sejam eles de ordem física ou espiritual? Nenhuma. É a primeira resposta que nos vem à mente. E, esta resposta foi o meu porto seguro durante sessenta longos e dolorosos anos, sendo que os doze primeiros ficaram indelevelmente marcados pela dor das lembranças da morte, pela asma que segundo alguns é uma doença que tem suas origens na alma e pela privação da liberdade de agir e até pensar imposta pela mão de ferro de meu pai e pelo aprisionamento da alma que me impedia de lutar pela liberdade.
A psicologia diz que deus não criou o homem, como nos ensina a filosofia Judaico-Cristã, ao invés disso o homem criou deus, só e unicamente pra suprir as suas necessidades de um pai protetor; principalmente nos momentos de medo ou insegurança, para justificar as suas franquezas e incentivá-los a sobreviver apesar das adversidades. Desta opinião compartilham os materialistas.
Onde reside a verdade? Para mim a semente da verdade está plantada, desde tempos imemoriais no mais recôndito nicho da alma humana e está revelada parcialmente por todo o planeta, em todas as filosofias, religiões, culturas, crenças, seitas, sociedades secretas, escolas ocultistas e, creiam, em todos os indivíduos pensantes _ como um grande quebra-cabeças. E somente àquele que pacientemente junta as peças desse imenso quebra-cabeça a verdade é revelada por inteiro, mas a complexidade do jogo é tão grande que, provavelmente, uma vida inteira de dedicação exclusiva e sistemática à busca da peça-chave que fecha o jogo não é suficiente. Morremos sem conseguir o intento, assim como todos aqueles que estiveram bem mais próximos de consegui-lo e os que jamais tentaram.
Mas, “Conhecereis a Verdade e ela vos libertará” pometeu-nos O Cristo, e assim será, mesmo que decorram mil, dois mil ou um milhão de anos e que dezenas ou centenas de milhares de vezes tenhamos que retornar a terra galgando lenta e progressivamente o Caminho que nos levará à Verdade; Só então estaremos libertos da roda das encarnações e poderemos contemplar, como Deuses, a escalada da evolução do Universo que nós, inconscientemente, ajudamos a construir. Veremos então o tempo reduzido a nada na eternidade Divina e o que nos parecia dor e sofrimento transmutado em novos Universos para a Grandeza de Deus.
Agradeço-te, oh! Deus que vive em mim, por me concederes ainda nessa encarnação a oportunidade de reconhecer a Verdade que, embora latente, sempre conheci. Oro a ti, agora, para me concederes uma sobrevida ainda maior do que já tantas vezes me concedestes, afim de que possa, nestes instantes que me restam de vida, aperfeiçoar ainda mais os meus corpos material e espiritual e assim reduzir a permanência na roda da vida e da morte como prometestes: “Aquele que crê e viva em mim, ainda que morra, viverá”
EU estou pronto para mergulhar na imensidão do Universo, para ser reabsorvido pelo Sagrado Espírito Divino, deixando para trás o Sagrado Corpo Material que se prestou tão magnificamente aos propósitos da Criação. Devolvo-o ao barro de onde saiu para ser transmutado em matéria prima de outras formas de vida. Sinto-me como um doador de órgãos, dando o seu corpo morto para assegurar a vida de outras pessoas. Mas, se em tua sapiência julgares que ainda não é chegada a hora, ilumina a minha mente, retém a minha razão, conserva o meu raciocínio para que eu possa desfrutar através dos sentidos a grandeza de tua obra e distribuir com os meus semelhantes as sementes de minha última floração.
Obrigado.



Texto redigido em 07/04/2009, data em comemoro junto de minha família o 60º aniversário de minha esposa, Donária, e há 32 dias do meu.

Sílvio Barbosa de Oliveira
sbdeoliveira@ig.com.br                                                                                                                                                                                                                                                               



Biografia:
Número de vezes que este texto foi lido: 52811


Outros títulos do mesmo autor

Ensaios VIDA E MORTE Sílvio Barbosa de Oliveira


Publicações de número 1 até 1 de um total de 1.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 69006 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57916 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56755 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55828 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55097 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 55045 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54932 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54883 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54805 Visitas
Coisas - Rogério Freitas 54792 Visitas

Páginas: Próxima Última