Mãos taciturnas agarraram tristemente as alças do caixão. O dia fez-se também triste, sombrio, obstinado e amargo como jamais fizera. A vida sentia nos ombros o peso da morte, fortemente entrincheirada no íntimo do coração. Não se sabe o porquê; mas o sol repentinamente escureceu, deixando no ar somente o barulho do pranto familiar. O defunto apenas fazia-se silencioso, como era do seu costume habitual, sendo levado nos ombros de velhos amigos.
Saiu o cortejo pelas ruas da cidade; as mulheres cantavam ave-marias, enquanto os homens contavam anedotas ao longo do caminho. O morto recolhia-se à sua insignificância (se ficou ofendido nada falou; preferiu ficar quieto); apenas dormia, como era costume habitual fazer ao som das ave-marias.
Mauricio Novais
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