CIDADES |
Pedro Du Bois |
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IV
Esquematizada em traços
esquece o começo
atravessado em campos
e rastros
cede ao progresso
a insinuação do nada
completado
água corrente
correntes
cercas
acerca da cidade
escritas idéias
ininterruptas.
V
Objetos de delírio
e prazer: a praça
entusiasmada em verdes
árvores não frutíferas
(a decoração)
e bancos colocados
estrategicamente
lado a lado.
Ousar atravessar
seus caminhos
em retangulares
pedras preocupadas
em colocações ligeiras
avançar sobre o canteiro
e espantar o pássaro
decaído em vontades
e fomes: assustar
o pássaro.
VI
A cidade diluída
em lembranças
remoça o retorno
velho esquecido
da rua escondida
sob tapumes
de novos prédios
olhar para cima
significa ignorar
o perigo de estar
na mesma rua
e não encontrar
a casa descontruída.
VII
Ser o herdeiro umbilical
do refazimento: a fotografia
expõe a neve
e a chuva
o desfile pátrio
e o jogo de futebol
personagens de eras
cansadas de recordações
caras à fracos corações.
VIII
As cidades sobrevivem
ao mito labiríntico
de infância e juventude
sobrevêm aos deuses
despossuídos
e da divindade
encantada retiram
o ócio da manutenção
do ofício
ter sido o habitante
ter sido o andarilho
ter sido o mendigo
e o médico coletado
em saúdes e saudades.
IX
Minhas cidades se repetem
em peças inquebrantáveis:
o cinema fechado em infindável
reforma; o clube decadente
repete diretorias e rainhas;
a igreja ampliada em fiéis
desconfiados de novos milagres.
Não me faço presente em alvoreceres
e madrugadas: refugio-me na noite
indelével dos sonos leves
avivo o fogo e memorizo o detalhe
da ressurgência. Amanhã será
ainda mais tarde
para reencontros
e conversas fiadas.
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Biografia: Poeta e contista. Nascido em Passo Fundo, Rs (1947). Residente em Itapema, SC. Membro do Clube dos Escritores Piracicaba e da Academia Itapemense de Letras. |
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