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A Diferença
Marcos Antônio Filho

A saudade inevitavelmente visitou o coração do pobre rapaz, que não hesitou em encontrar novamente sua amada. Ele vivia no ápice da paixão, em que vivenciou vários momentos de pura magia ao lado de seu grande amor, nada mais justo do que ir vê-la, acordá-la com beijos e dizer as sentimentalidades que gosta de pronunciar. Sua vida era plena ao lado dela, tudo estava perfeito. Ele comprou uma caixa de bombons e girassóis pra enfeitar mais ainda a vida do casal tão apaixonado. Ele nuca havia visitado-a, por que essa paixão era recente e ainda não havia intimidade suficiente pra ele dormir lá, era o que alegava sua amada, e ele não ousava contestar. O porteiro o reconhece e o deixa entrar sem avisar. Ele chega na porta dela, surge o receio de tocar campainha, mas ele o faz. Uma pequena espera e ela finalmente aparece. Despenteada, com olheiras, desarrumada, um rosto inchado de uma noite mal (ou pouco) dormida. Ela surpresa com a visita inesperada, pergunta:

- O que você veio fazer aqui?
- Eu vim te ver, meu amor. Estava morrendo de saudades de você, e assim que acordei resolvi te visitar.

Ela comenta com desdém:

- Essa hora? Só você mesmo. Entra.

Ao entrar ele lembrou de entregar o seu doce e suas flores pra sua amada:

- Para você, meu bem. – Ele mostrou o seu sorriso singelo.

Ela tira o embrulho e quando vê o presente, resmunga:

- Caixa de bombons? Você quer que eu exploda de tão gorda?
- Mas você não é gorda, amor...
- Mas posso ficar se você ficar me alimentando com chocolates! E ainda trouxe flores!

O Nariz dela começa a se irritar e um espirro alérgico se torna inevitável. Ela resmunga mais ainda de ódio:

- Eu sou alérgica a flores! Que ódio! Tira isso daqui agora!

Ele fica sem reação e sua amada pega as flores e aos espirros joga o arranjo de girassóis no lixo. Um certo desapontamento aparece no rosto do rapaz, mas ele não se deixa abater e concorda que isso foi apenas um contratempo. Ele então pega na mão dela e se desculpa. E ela comenta de novo:

- Você é diferente mesmo. Até desculpas você me pede!

Ele ficou sem entender o comentário dela e resolveu ignorá-lo, porque em seguida as coisas pareciam transcorrer bem. Como já estava na hora do almoço, ela foi prepará-lo e ele foi esperar pacientemente pela a comida dela na sala. Mas ele não tirava os olhos do seu objeto de veneração, uma criatura tão bela, tão fascinante, embora a personalidade forte, ela era um amor de pessoa. E ela era tudo que sonhou em uma mulher. E ele não se importava com a indiferença dela às vezes, isso era apenas um detalhe que não deixava as coisas ficarem perfeitas.

Para não se sentir inútil diante de seu amor, ele foi oferecer sua ajuda, mas recebeu uma resposta rancorosa:

- Não preciso da sua ajuda.
- Ta bom. – Ele não ligava com os constantes ataques dela em sua direção, tanto que ele acaba se declarando mais uma vez – Eu já te disse que te amo?

- Já, já... Você não sabe dizer outra coisa, além disso?
- Eu só estou tentando ser gentil.

Ela, que aparentava estar totalmente desinteressada na companhia dele, resmungou novamente:

- Você é diferente demais...

A tranqüilidade retorna para o almoço. Mesmo com as rusgas, ele não se abalava diante de seu amor perfeito. Educado como ninguém, ele a servia e comia como um nobre. Sequer reclamou da carne mal-passada, que comeu como se fosse o alimento dos deuses. E cada gesto de bons modos dele, cada olhar apaixonado, desde o começo da relação a deixava cada vez mais incomodada. O excesso de zelo para com ela a irritava e ela não pôde mais segurar o ódio vicioso que se percebia na face encolhida.

- Alguma coisa com a comida? – Perguntou cordialmente.

Ela respira fundo evita olhá-lo de frente, para não perder a razão, porém todo o esforço é inútil, algo estava engasgado e não era a comida:

- Não... É você que me irrita!!! – Ela responde enfurecida e continua desabafar – Você não tem outra coisa pra fazer, a não ser ficar todo dia comigo fazendo gentilezas! No começo achava, que bonitinho, mas porra eu já te dei e você continua sendo gentil!!!

- Mas eu só queria...

- Este é o seu problema! “Eu só queria agradar, eu só queria ser útil”, você me sufoca com o seu pieguismo!
- Eu errei na melhor das intenções...
- Mas tinha que ser na pior! Pra mim chega! Em tão pouco tempo você conseguiu desgastar uma relação! Você é incrível! Está insustentável... Não dá mais...
- Eu posso mudar, me ensina.
- Não quero ensinar, não sou professora, se a vida não te ensinou não vai ser eu. Pretendo ter um namorado, não um subalterno. Por favor, não apareça mais aqui.

Ele se ajoelhou nos pés dela e chorou copiosamente em seus pés como a ultima tentativa de reatar com seu grande amor. Ele nunca tivera um amor como esse em sua vida, não poderia perdê-lo assim, desse jeito...Ele achava que as coisas estavam caminhando tão bem...Nada mudaria opinião dela, nem o choro mais emocionado, a declaração mais intensa, nada quebraria a pedra que havia se transformado o seu coração. Todas as palavras hostis que ele ouvira fora como uma faca entrando em seu peito. Vendo-se desprezado pela a mulher amada, enxugou as lágrimas e vencido, retirou-se, sem se despedir e sem olhar para trás, tendo as palavras rancorosas de sua amada ecoando em sua mente. Ele se impressionou com a frieza e inescrepulosidade dela ao dizer aquilo sem gaguejar uma sílaba. Ele só queria tratá-la bem, como ele achava que ela merecia. Mas tudo acabou se tornando um grande erro. E o grande erro era ele. Por achar que o erro era dele e não dela, por não ter pensado em esfriar a cabeça e raciocinar que ela não era a única mulher no mundo, ele se atirou na primeira carreta em alta velocidade que viu na via expressa em que estava passando. Pelo o simples fato de ser diferente demais para o seu amor, embora ele nunca teve tempo de saber, o que a diferença para uns poderia ter sido a semelhança que alguém estava procurando.

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