Pai Nosso que estás em mim,
Teu nome, Pai, é ambrosia
Nos raios do albor do dia,
Nas noites d´alma, sem fim...
Bendito é teu santo nome
No amor que ampara e conforta,
Que acolhe quem bate à porta,
Chorando de sede e fome.
Pai Nosso que estás em nós,
Me ensina a não ser covarde;
Que a minha voz, sem alarde,
Defenda os que não têm voz.
Inspira, ó Senhor da graça,
Amado Pai, Deus da vida,
Dá consolo à alma sofrida
E força ao viajor que passa.
Pai Nosso que estás na Terra,
Não pode haver empecilhos...
Faze cessar nos teus filhos
O instinto de fazer guerra!
Que, sendo Pai, nos conforte,
Pois, num viver miserando,
Há jovens se acorrentando
Aos “pacotinhos de morte”!
Pai Nosso que estás na rua...
Açoitando a populaça,
Em cada canto da praça,
A miséria se insinua.
O “pão nosso” é quase raro!
Falta saúde e comida,
Pois, quando a alma é desnutrida,
O corpo não tem amparo!
Pai Nosso, de amor fecundo,
Lá no Planalto Central,
Esse poder temporal
Rouba mais que todo mundo.
E os pobres, sem ter sustento,
Em filas, iguais a escravos,
Ficam contando os centavos
Para comprar o alimento.
Pai Nosso que estás aqui,
Escuta o meu grito acerbo!
Perdão se, “rasgando o verbo”,
Eu quase, Pai, te ofendi...
Perdão para os filhos teus!
Tua bondade é completa...
Eu sou apenas poeta,
Embora um filho de Deus!
Ó luz que em mim se derrama...
Pai Nosso! Bendito sejas!
Estás, além das igrejas,
No coração de quem ama.
A dispensar qualquer prova,
Quando eu paro e me concentro,
É que eu te sinto aqui dentro,
De uma maneira tão nova...
Escuta a minha oração:
Neste meu peito, que ferve,
Faze que o amor se conserve
Imolado, em doação.
Que a fé, vivaz e inteiriça,
Não feneça e não se abale
(Tua vontade é que vale!).
Faze cessar a injustiça!
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