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George Berkeley e David Hume na atualidade
Giulio Romeo

As ideias de George Berkeley e David Hume, dois grandes filósofos empiristas que sucederam John Locke, continuam a ter relevância significativa na filosofia contemporânea, especialmente em áreas como epistemologia, filosofia da mente, ciência cognitiva, filosofia da linguagem e até no entendimento moderno da realidade virtual e inteligência artificial. Vejamos como suas ideias se manifestam e têm impacto na atualidade.

1. George Berkeley e o Idealismo

George Berkeley (1685–1753) é conhecido por sua teoria do idealismo, também chamada de idealismo imaterialista, que sustenta que a realidade é constituída apenas de ideias e que objetos físicos não existem de forma independente da mente que os percebe. Para Berkeley, "ser é ser percebido" (esse est percipi), e tudo o que chamamos de realidade física existe apenas como uma ideia na mente de um observador.

Implicações na Atualidade:
Realidade virtual e o conceito de "realidade": A visão de Berkeley sobre a realidade como sendo dependente da percepção se conecta diretamente com debates contemporâneos sobre realidade virtual e realidade aumentada. Na era digital, estamos cada vez mais imersos em ambientes virtuais que, apesar de não existirem fisicamente, são percebidos como reais. A ideia de que a percepção constrói a realidade, algo central na filosofia de Berkeley, está se tornando cada vez mais relevante no contexto tecnológico.

As plataformas de realidade virtual exemplificam a noção berkeliana de que a "realidade" depende da percepção. Objetos e experiências digitais, como mundos de jogos ou ambientes simulados, só "existem" na medida em que são percebidos pelos usuários.

Filosofia da mente e percepção: O idealismo de Berkeley também dialoga com as teorias contemporâneas da filosofia da mente e da ciência cognitiva, que investigam a relação entre a percepção e a realidade. Questões sobre se vivemos em um "simulacro" digital ou em um "cérebro em uma cuba", como popularizado pelo experimento mental, evocam a ideia berkeliana de que não podemos ter certeza da existência de objetos além da nossa percepção.

Berkeley e o "problema da mente-corpo":
A tese de Berkeley de que não há substância material também se insere no debate sobre o dualismo e o materialismo na filosofia contemporânea. Com a ascensão do transumanismo e o debate sobre a incorporação de tecnologia nos corpos humanos, surge uma nova perspectiva sobre o que realmente define a realidade física em contraste com a mental.

2. David Hume e o Empirismo Radical e Ceticismo

David Hume (1711–1776) é conhecido por seu empirismo radical e seu ceticismo em relação ao conhecimento humano, especialmente sobre a causalidade, a indução e a existência de "eu" como entidade fixa. Hume argumenta que todo o conhecimento é derivado da experiência sensorial e que não temos justificativa racional para acreditar em uma causalidade objetiva ou em leis universais, uma vez que não podemos observar diretamente o nexo causal entre eventos. Ele também questiona a noção de identidade pessoal contínua.

Implicações na Atualidade:
Ceticismo humeano e a ciência contemporânea: O ceticismo de Hume em relação à causalidade tem ressonância nos debates sobre fundamentos da ciência e no problema da indução. Hume afirmou que não podemos justificar logicamente que eventos futuros seguirão o mesmo padrão dos eventos passados, algo que, por exemplo, toca na incerteza inerente das previsões científicas.

Probabilidade e incerteza: No campo da ciência, os métodos probabilísticos e as discussões sobre incerteza, especialmente nas ciências físicas e na economia, refletem a dúvida de Hume sobre a certeza do conhecimento derivado de inferências indutivas.

O debate sobre o que constitui uma verdade científica continua a ser moldado pelo ceticismo de Hume, especialmente no campo da filosofia da ciência, onde sua crítica à indução ainda é relevante para lidar com a confiabilidade das teorias científicas.

Psicologia cognitiva e a crítica à identidade pessoal: Hume negava a existência de um "eu" permanente ou substancial, argumentando que o "eu" é apenas um feixe de percepções momentâneas. Essa visão influenciou profundamente as teorias contemporâneas na psicologia cognitiva e neurociência, que muitas vezes tratam a identidade pessoal não como algo fixo, mas como uma construção fluida derivada de estados mentais e memória.

As investigações modernas sobre a plasticidade cerebral e o efeito das tecnologias digitais sobre a memória e a identidade, como as discussões sobre "identidade digital" nas redes sociais, podem ser vistas como uma continuação das reflexões de Hume sobre a natureza fluida do "eu".

Hume e a ética contemporânea: Hume é também uma figura central na ética contemporânea, especialmente por sua distinção entre "fatos" e "valores" — conhecida como o "problema de Hume" ou a falácia naturalista. Ele argumentava que não se pode derivar um "dever ser" a partir de um "é", ou seja, que não podemos tirar conclusões morais a partir de fatos puramente descritivos. Isso tem grandes implicações para os debates éticos atuais:

Na bioética e no debate sobre a inteligência artificial, a falácia naturalista de Hume alerta contra a ideia de que os avanços tecnológicos, por si só, justifiquem certas normas morais ou éticas. Só porque algo é tecnicamente possível, não significa que seja moralmente aceitável.
Ceticismo humeano sobre religião: Hume foi um dos maiores críticos do argumento da causalidade para a existência de Deus, questionando a validade dos milagres e da teologia natural. Hoje, seu ceticismo influencia o ateísmo filosófico e o agnosticismo. Seus argumentos contra o design inteligente são frequentemente invocados em debates entre ciência e religião, particularmente na filosofia da religião e nas discussões sobre o criacionismo versus evolução.

3. Relevância Filosófica na Era Digital

Tanto Berkeley quanto Hume são figuras-chave em debates que surgiram com o desenvolvimento da era digital e da IA. O questionamento de Hume sobre a causalidade, por exemplo, é relevante no desenvolvimento de sistemas de machine learning, que funcionam por correlações e padrões, mas não podem necessariamente provar causalidade. Da mesma forma, o idealismo de Berkeley nos leva a refletir sobre como percebemos o mundo digital e se podemos atribuir "realidade" às simulações e ambientes virtuais que não têm substância física.

As perspectivas de Berkeley e Hume continuam a influenciar muitos aspectos do pensamento filosófico contemporâneo. Berkeley, com seu idealismo, fornece uma base para refletirmos sobre a realidade digital e como a percepção molda o mundo "real". Hume, com seu empirismo radical e ceticismo, nos ajuda a questionar as bases da ciência, da identidade e da moralidade. Ambos filósofos ainda são essenciais para o pensamento crítico na era tecnológica e digital, oferecendo reflexões profundas sobre a natureza do conhecimento, da percepção e da existência.


Biografia:
Professor de Ciências da Religião, Teólogo e Pesquisador de Ciências ocultas. Procuro a verdade e quero compartilhar meus estudos sobre o comportamento filosófico e religioso de povos e comunidades, que tem a fé, como sustentáculo de sua existência tridimensional.
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