E se medito no tempo que me cansa
as horas de ninguém, penso que talvez,
tenha passado uma grande parte
de minha vida dentro de uma redoma de dor.
Desde pequena o sofrimento alavancou
os meus dias.
O medo de falar e até de pensar me dominava.
As represálias por só olhar, magoavam a alma.
E assim fui vivendo.
Ainda criança, fui atirada na vida,
sozinha, a cuidar e alimentar o pai,
a mãe e seus outros brotos de amor.
Cresci mas fiquei criança dentro de mim.
Tive medo de ser mulher.
E me escondi do mundo por tantos milênios
que ele passou e eu...
nunca aprendi a viver nele.
Vivi séculos ao lado de homens
completamente doentes e arrasados pela vida.
Cisnes que fizeram de suas vidas patinhos feios.
Sofridos e combalidos, sou cativa de suas dores,
as quais sinto, preciso amainar,
acalmar e ajudar a curar para manter-me
eu mesma saudável, esquecer
e curar em mim a mesma história de vida.
E foi o que aprendi pra mim.
Que o mundo é assim.
Acho que ainda não vivi minha vida.
Dei ela aos outros numa bandeja.
E cada um pegava um pouquinho
para ungüento de suas feridas.
Reparti cada palavra, cada gesto,
cada olhar, cada abraço de carinho e amor.
Agora, tomei minha vida em minhas mãos.
E... que desespero...
não sei mais o que fazer com ela...
Maria
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