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A MENINA QUE QUERIA CONSERTAR O MUNDO
FLAVIO ALVES DA SILVA

Resumo:
A menina que queria consertar o mundo, ela é amante da natureza, e luta para a conservação do planeta. Um texto é uma pequena aula sobre o meio ambiente.

A MENINA QUE QUERIA CONSERTAR O MUNDO
Texto – Flavio Alves

CENÁRIO – Uma casinha humilde, onde na parede tem uma tarrafa de pesca, que o Vovô Beraldo, está confeccionando e dois tamboretes. Ao lado da casa tem também cinco coletores de lixo, nas cores, azul, amarelo, verde, vermelho e marrom.

PERSONAGENS:

Lita
Belinha
Vovô Beraldo
Dona Dina
Tadeu
Chico
Mensageiro


MENSAGEIRO

Crianças meu boa tarde
Venho aqui para falar
De uma certa menina
Que vocês vão adorar
E ela se chama Lita
E tudo quer consertar.

Pensa em consertar o mundo
Mas veja só que ironia
Com dez anos de idade
Pensa de tarde, noite e dia
Ela ama o seu planeta
E isso não é fantasia.

Ela mora na cidade
E sua prima também
Uma tal de Belinha
Que ela tanto quer bem
Mas agora estão em férias
E vão pra casa de alguém.

Esse alguém é seu avô
O velhinho seu Beraldo
Que mora em Esperança
Um certo engenho falado
Mas ele vive sozinho
E é um velho animado.
Ele tem o seu roçado
E vive da plantação
Também é aposentado
E digo de coração
Esse velho é muito bom
E essa é minha opinião.

O velho tem dois vizinhos
Um tal de Chico e Tadeu
E eles criam passarinhos
E juro que não são meus
Mas tomaram uma lição
E posso até jurar por Deus.

Dona Dina a mãe de Lita
Com muita preocupação
Veio também pra o engenho
Pra não arrumar confusão
Com os vizinhos da cidade
E evitar uma discussão.

O engenho Esperança
Era só tranquilidade
Muito verde do campo
E muita felicidade
E o ar que respiravam
Era o ar da liberdade.

Muitas frutas rasteirinhas
Manga, laranja e acerola
Uva, goiaba e melancia
Banana, abacate e graviola
Sapoti, mamão e azeitona
Caju, cajá e carambola.

Ia esquecendo o riacho
Com a água bem clarinha
Onde se avistava os peixes
E no céu as andorinhas
Com borboletas voando
E em todo lugar se tinha.

Mas vamos logo pra estória
Pra conhecer os personagens
E prestem muita atenção
Nessa minha mensagem
E vamos apoiar Litinha
E não sejamos covardes.

Agora cantem com o elenco
E viva esse mundo mágico
Uma paródia conhecida
Que incomoda muito rato
Que todo mundo conhece
O atirei o pau no gato.

Obs. Os atores entram pela plateia cantando a paródia da música infantil. atirei o pau no gato.

Atirei o anzol no ri ô, ô
Mas o ri ô, ô, se irritô, ô, ô
Tinha lixo, xô, dentro delê, lê
E assim, e assim, ele chorou, buáu!

Tinha muita porcari, a, a
Que o homem, mem
Colocou, ôu, ôu
Neste ri ô, ô, que era lindô, ô
E assim, e assim, ele chorou, buáu!

O homem é muito mau, mau, mau
Mata os peixes, é ilegal, gal, gal
Não sujemos, mos, nossos rios, os
Pra não ser, pra não ser, cara de pau.

Mas podemos mudar isso, sô
Evitando, dô, não sujar, já, já
Sendo assim, sim, sim
Todo mundo, dô,
Sendo assim, todo mundo
Vai ganhar.

BERALDO – (Todos os atores saem, apenas o vovô Beraldo, senta em um tamborete e fica mexendo na tarrafa). Tenho que terminar esta tarrafa e entregar na próxima semana, afinal sou um velho aposentado, mas qualquer trocado que entra, já vai ajudando, e agora com essas minhas netas de férias da escola, é mais um motivo. Elas só querem ficar aqui nesse engenho. Aqui é bom porque não tem barulho de carro, pra lá e pra cá. Tem um riacho claro para tomar banho, muitos pássaros e animais silvestres, e ao entardecer quando vai caindo o crepúsculo vespertino, escutamos a sinfonia das cigarras cantando nas árvores, e à noite, sentamos no terreiro, e admiramos o clarão da lua com o piscar dos pirilampos. Tudo aqui é muito lindo, isso sem falar desse ar puro que respiramos. Já estou velho, mas não deixo de plantar minhas frutas e verduras, e também batata doce, macaxeira, inhame e outras coisas. Fome aqui não existe. (Entra Lita cantarolando a música inicial).

LITA – Boa tarde garotada! Poxa! Vocês estão com fome é? Eu não escutei foi nada, vou repetir de novo. Boa tarde garotada! Êita, agora eu escutei, chega doeu no meu ouvido. Mas eu quero saber de uma coisa. Vocês viram o vovô Beraldo? Ele tá aonde? (Lita sai procurando o vovô Beraldo pela plateia e abraça uma criança) Agora achei ele. Tudo bem vovô Beraldo? Oxe, não é ele não. Cadê ele? (Vai até à casa). Será que ele está dentro de casa? Então vou chamá-lo. (Entra Belinha).

BELINHA – Êi, nem pensar. O vovô Beraldo trabalhou bastante no roçado e ainda tem essa tarrafa pra ele terminar e entregar pra semana.

LITA – Já vem você com essa sua chatice. (Fica imitando Belinha), vovô não pode, vovô tá cansado, tem tarrafa pra entregar. Me poupe sua mentirosa.

BELINHA – Mas olha só pra ela! Eu tô mentindo tô? Pois eu quero que a vaca tussa se eu tiver mentindo. Mentirosa é você, e se não tiver acreditando, pergunte aquele menino que tá chorando (aponta).

LITA – (Vai até um menino) Qual menino, é esse aqui é?

BELINHA – É esse mesmo.

LITA – Tu estás ficando é doida, esse menino tá chorando não, ele tá e sorrindo, ôxe!

BELINHA – Olha Lita, é melhor tu sair, vai pra lá vai. Não sabe de nada. (para o menino). Ô esse menino, O vovô Beraldo, não está cansado e tem que terminar essa tarrafa pra entregar pra semana? (para Belinha) olha aí, tá vendo que eu estava falando a verdade?

LITA – Mas é nada. E por que eu tenho que acreditar nesse menino? Eu nem conheço ele.

BELINHA – Tem que acreditar, porque ele chegou primeiro que você, ele e todas as outras crianças, não é pessoal? Tá vendo? Tu chegas atrasada e ainda fica procurando confusão.

LITA – Tá bem, então vamos fazer uma coisa, vamos entrar por trás bem devagar pra não acordar o vovô. (Saem as meninas e os meninos entram).

TADEU – Pronto Chico, agora me conte porque você insistiu pra a gente vir até aqui.

CHICO – Pra a gente aprontar com esse velho retardado. A semana passada ele soltou meu curió e ainda quebrou minha gaiola.

TADEU – Mas oxe, e tu visse?

CHICO – Não vi, mas sei que foi ele. Ele vivia dizendo que um dia ia soltar meu passarinho e ia quebrar minha gaiola.

TADEU – Mas pode não ter sido ele. O velho Beraldo é uma pessoa querida por todo mundo daqui do engenho Esperança. E ele ajuda muita gente.

CHICO – Pois fique você sabendo que não foi só o meu curió, o seu canário ele soltou também, quando eu tinha deixado as duas gaiolas na cerca para os passarinhos tomarem sol. Só sei que fui pegar umas amoras pra minha mãe fazer uma torta, e quando voltei as gaiolas estavam quebradas no chão.

TADEU – Agora foi que lascou! Eu não quero nem saber. Quero meu passarinho, você prometeu cuidar dele.

CHICO – Oxe, e eu que sou culpado é? Foi esse velho nojento. Eu sempre falei que ele não gostava da gente por que a gente cria passarinhos.

TADEU – Então sendo assim, vou aprontar uma pra ele e não quero nem saber.

CHICO – E o que a gente vai fazer então?

TADEU – Fiquei com tanta raiva, que por mim eu tocava fogo na casa dele.

CHICO – Ôxe tu tais doido é? E se o velho morrer? Isso é crime, vamos pensar em outro plano.

TADEU – Mas que plano Chico?

CHICO – Já sei Tadeu. Uma coisa que esse velho gagá gosta de fazer, são tarrafas como essa aqui. Que tal a gente pegar uma faca e cortar ela todinha?

TADEU – Não, pra não levantar suspeita. A gente leva essa tarrafa e joga lá no riacho.

CHICO – É isso mesmo que a gente tem que fazer. Agora pega a tua bolsa. (Eles tiram a tarrafa e botam dentro de uma bolsa).

TADEU – Chico me diz uma coisa.

CHICO – O que é? Fala.

TADEU – Aquela tua namorada a neta do velho, tá pra chegar. Aquela chamada Lita, e a outra neta chegou ontem a que se chama Belinha. Eu vou é namorar com ela.

CHICO – Tadeu, eu e tu só temos dez anos. E eu não tenho nenhuma namorada.

TADEU – (Debochando) Tem nada...

CHICO – Tenho mesmo não. Nós ainda somos duas crianças, e lugar de criança é na escola e brincar. Minha professora sempre diz isso, e não gosta de ver criança falando coisa de adulto não.

TADEU – Mas pensando bem, tua professora tem razão. Pra que namorar agora? Os adultos vivem cheios de problemas. Deixa essa coisa de namorar pra lá.

CHICO – Essa Lita, é prima da Belinha. Elas são todas metidas só porque moram na cidade, mas todos os anos vem passar as férias aqui no engenho Esperança.

TADEU – Olha o que o pai e a mãe de lita deram ao velho de presente (aponta para os coletores).

CHICO – Estou vendo, parece mais um carnaval, e o pior, (chama Tadeu) vem até aqui. Olha tudo é lixo, mas tá tudo separado. (vai olhando dentro dos coletores e vai falando). Azul tem papel, vermelho tem plástico, no amarelo tem metal, o verde uns cacos de vidros, e o marrom, éca que nojo! Resto de comida, sei não viu, pra que isso separado?

TADEU – E não é, tudo não é lixo mesmo. Sabe de uma coisa? É melhor a gente ir embora.

CHICO – Vamos sim, e a tarrafa a gente joga no riacho. (Saem, entra Lita e Belinha).

LITA – Belinha, o nosso avô é muito organizado, eu falei sobre a aula de coleta seletiva e ele adorou, aí mandou meu pai comprar esses coletores, vem ver.

BELINHA – Nossa Lita que chic! Olha pra aí! O que devemos colocar dentro do vermelho?

LITA – No vermelho é tudo que for plástico.

BELINHA – E na cor azul?

LITA – Na cor azul a gente coloca papel, papelão...

BELINHA – E no coletor de cor amarela?

LITA – No amarelo são só os metais.

BELINHA – Agora é o coletor verde.

LITA – No verde coloca-se tudo que for vidro.

BELINHA – Eca Lita! Esse marrom tá com resto de comida.

LITA – Pois é, o marrom é para os orgânicos. Sendo assim, tudo que for de comida é no marrom, mas tem que deixar os coletores fechados até quando alguém vier fazer a coleta. Se todo mundo separasse seu lixo e não jogasse em qualquer lugar, seria uma maravilha para o nosso planeta.

BELINHA – Eu fiquei com tanta raiva de uma menina, quando peguei o ônibus pra vir pra casa do nosso avô. Ela tava com a mãe dela e mastigava um chiclete que parecia com uma cabra, e o pior que ela ficava esticando o chiclete. Depois pegou o chiclete e jogou pela janela.

LITA – O correto seria ela pegar o chiclete e botar no lixo quando chegasse em casa, ou num coletor que tivesse na rua, mas nunca jogar no solo. Uma vez pisei num chiclete e foi horrível de sair.

BELINHA – O lixo como garrafa pet, latinhas de alumínio e outros, podem se transformar em brinquedos sabia? E também é uma fonte de renda pra muitas pessoas desempregadas.

LITA – Se a gente fizer nossa parte, o planeta agradece, porque tudo vai servir de benefícios no futuro, para os nossos filhos e netos e preservar o meio ambiente praticando também a sustentabilidade.

BELINHA – Ô Lita, eu acho que está faltando alguma coisa por aqui. Quando eu cheguei eu percebi que tinha alguma coisa a mais, só não lembro o que é.

LITA – Tá faltando nada não menina, tu estás é ficando maluca. (para as crianças) Tá faltando alguma coisa garotada? (As crianças vão dizer que está faltando a tarrafa e os atores exploram com perguntas, até elas acusarem Chico e Tadeu).

BELINHA – É bem aquele teu namorado.

LITA – Eu ainda sou criança, e criança tem que estudar e brincar, não é pessoal?

BELINHA – Êita! E agora o que vamos dizer ao vovô Beraldo quando ele acordar?

LITA – Ô Belinha, o que foi que o vovô fez, pra os meninos levarem a tarrafa?

BELINHA – E como é que eu vou saber Lita? Nem eu, nem tu, estávamos aqui, mas alguém aqui na plateia deve saber.

LITA – Então vou perguntar. Alguém sabe o motivo? (As crianças vão dizer que o vovô soltou os pássaros e quebrou as gaiolas).

BELINHA – Êita Lita! E agora, o que dizer ao vovô quando ele acordar? Por falar nisso, ele já acordou e está vindo.

BERALDO – Minhas netinhas vocês estão aqui, que bom. De repente me deu um sono, e eu apaguei. E o pior que tenho que terminar a tarrafa de seu Sebastião.

LITA – Chegamos já faz um tempinho. Aproveitamos e fizemos um cafezinho e deixamos na garrafa pra o senhor tomar quando acordar.

BERALDO – Eu tomo depois, porque vou trabalhar pra entregar a tarrafa de seu Sebastião. (Ele olha e a tarrafa não está). Vamos deixar de brincadeiras e devolvam a tarrafa que estava aqui.

BELINHA – Mas vovô...

BERALDO – Mas vovô nada. Eu quero minha tarrafa.

LITA – Mas vovô, eu juro que não pegamos sua tarrafa.

BERALDO – Quando a gente tá dormindo nada ver.

BELINHA – Ôxe vovô que coisa chata, o senhor tá duvidando da gente. (Fica triste e chora escondendo o rosto).

LITA – Fica assim não Belinha. Tá vendo o que o senhor fez? Ela está chorando.

BERALDO – Ôxe minha netinha, deixa pra lá, fique assim não.

BELINHA – Se o senhor não acredita na gente, pergunte para as crianças, quem foi que levou sua tarrafa.

BERALDO – Eu vou perguntar sim, mas antes vou ver o que danado tem nos meus bolsos. (Ele retira coisas dos bolsos e vai jogando no chão). Cartão vencido da mega sena, as lentes dos meus óculos que não servem mais pra nada, pregos enferrujados, copinhos descartáveis, um bolinho de trigo que já está velho. (Enquanto o velho vai tirando dos bolsos os objetos, as meninas ficam gesticulando de longe a atitude do avô jogar os lixos no chão). Oxe, vocês me deixaram falando sozinho foi?

LITA – Sinceramente vovô Beraldo, até o senhor?

BERALDO – Oxe, o que foi que eu fiz?

BELINHA – O que o senhor fez? (Pergunta as crianças apontando as coisas no chão) O que ele fez pessoal?

LITA – O senhor jogou um bocado de coisas no chão e não botou nos coletores.

BERALDO – Êita, é mesmo! Desculpe eu estou errado, mas vou consertar meu erro, mas tem um problema.

BELINHA – E qual é o problema vovô?

BERALDO – Eu esqueci as cores de cada lixo pra botar nos coletores corretos.

LITA – Tem problema não, as crianças vão ajudar. O papel qual é a cor? E o plástico? O vidro? Esses pregos enferrujados boto onde? E esse bolinho de bacia?

BERALDO – Êita minhas netinhas sabem de tudo. E você Belinha quer ser o que quando crescer?

BELINHA – Eu pretendo estudar pra ser uma famosa psicóloga.

BERALDO – Isso é muito bom, muito bom. E você Lita quer ser o quê?

LITA – Eu serei conhecida como “A Menina que Queria Consertar o Mundo”
Quero ser uma ambientalista.

BERALDO – Que bom minha neta!

BELINHA – Vovô o que é isso preto feito carvão, é cinza é? Tem em todo canto.

BERALDO – Isso pode ter sido do fogo que botaram ontem no canavial.

LITA – É por isso que quero ser uma ambientalista. Não pode se colocar fogo causando incêndio, é ruim para o meio ambiente. As queimadas prejudicam o solo, além da fumaça que é prejudicial à saúde, causando doenças respiratórias.

BELINHA – E também tem os coitados dos animais. Já imaginou alguém botar fogo na nossa casa? Ou a gente morre queimado, ou tem que sair correndo.

LITA – Tá vendo minha prima, como você está aprendendo? É isso mesmo. E agora que tal se o vovô nos levasse pra a gente tomar um banho no riacho?

BERALDO – Eu levo vocês agora no riacho, mas quando eu chegar quero saber da criançada quem foi que levou minha tarrafa. Agora vamos. (Saem e os meninos entram).

TADEU – Psiu! Silêncio que o velho deve tá dormindo.

CHICO – Tá nada, eu acho que ele foi pra cidade buscar as netas dele.

TADEU – Aii como eu queria saber pra onde o velho foi. Ô Chico tu não sabes não?

CHICO – Tu tais doido é? Como vou saber se eu estava o tempo todo contigo? Eu acho que essas crianças sabem e não querem dizer pra a gente. (para uma criança) Tu não sabes não essa menina? Êita Tadeu o velho foi pra o riacho, mas ele foi sozinho? Êita Tadeu o velho foi com as netas, elas já chegaram, tais vendo?

TADEU – Ainda bem que a gente não jogou a rede no riacho.

CHICO – Não jogou por causa de mim, que não deixei. A gente só pode fazer uma coisa quando tem prova, e a gente não viu o velho quebrando gaiolas e nem soltando os pássaros.

TADEU – E se minha mãe descobrisse que eu tinha jogado a tarrafa no rio, ela e meu pai iam bater em mim, por isso que foi melhor não jogar.

CHICO – Sabe Tadeu, às vezes tenho vontade de deixar de criar passarinhos, e vai ser isso que vou fazer quando eu chegar em casa, vou pegar e soltar tudinho.

TADEU – E a gente vai brincar de quê?

CHICO – De outras coisas, mas brincar com a vida dos passarinhos isso não está certo. Todo mundo tem que ser livre, e os bichos também. Sabia que maus tratos aos animais é crime?

TADEU – E também a polícia florestal do Ibama pode até prender a gente. Era bom que todas as crianças inteligentes nunca aceitassem prender os pássaros.

CHICO – Onde está a tarrafa? Pega aí pra mim que vou deixar no mesmo lugar. E vou pedir desculpas ao velho, não é crianças? Pronto Tadeu, quando seu Beraldo chegar a gente conta a nossa estória e pedimos pra ele desculpar a gente.

TADEU – O riacho é logo pertinho, já, já, eles estão chegando. (Eles botam a tarrafa no mesmo lugar). Ô Chico, aquela que está chegando eu acho que é a mãe de Lita a neta do velho. (Dona Dina entra pela plateia).

CHICO – É ela mesma, mas o que será que aconteceu?

Dina – Virgem, minha nossa senhora! Já estou com os mocotós doendo de tanto caminhar. Esse engenho Esperança é muito distante. Minha filha Lita com esse negócio de querer consertar o mundo, tá arrumando é confusão com os vizinhos, foi até bom ela vir passar as férias aqui. E pra não ficar escutando piadinhas dos vizinhos, achei melhor passar as férias aqui também. E meu marido Samuel, ele que tome conta da casa. Vai terminar um dia eu internar essa minha filha, ela agora só está arrumando problema. O que ela tem a ver com a vida dos outros? (Olha para os meninos). Vocês estão por aqui também? É o Chico e o Tadeu não é isso? Eu me lembro de vocês desde o ano passado. Mas por acaso vocês sabem me dizer por onde anda Seu Beraldo com minha filha e com a sobrinha do meu marido?

TADEU – Nós também não esquecemos da senhora não dona Dina. Já tivemos aqui duas vezes e não encontramos ninguém.

CHICO – É, mas a criançada falou pra a gente que todo mundo tinha ido tomar banho no riacho. Seu Beraldo, Lita e Belinha.

TADEU – A gente vai ficar aqui esperando até eles chegarem, porque a gente tem um negócio pra contar.

CHICO – É, mas contar só quando todo mundo chegar.

DINA – Mas como eu estava falando, vai terminar eu internar minha filha de verdade. Vocês sabem o que ela aprontou? Fez uma confusão com alguns vizinhos, pegou as coisas dela, deixou um bilhete dizendo que só voltava quando terminassem as férias. Liguei várias vezes e ela não atendeu, então arrumei minhas roupas e vim pra cá também.

TADEU – Eu acho que a senhora não sabe, mas sinal de celular só pega lá perto do riacho, e quando a gente quer fazer uma ligação a gente corre pra lá.

DINA – Então o problema foi esse. Agora já sei, da próxima vez já estou informada. Mas a Lita com esse negócio de consertar o mundo, foi dizer ao vizinho que tivesse vergonha na cara e fechasse a torneira quando ele tivesse tirando a barba ou escovando os dentes pra não desperdiçar água. Aí o vizinho veio botando fogo pelas narinas feito um dragão.

CHICO – Olhe dona Dina sua filha não tá errada não, a minha professora disse que a água um dia vai acabar se a gente não tiver cuidado. Por isso que ela falou pra ele fechar a torneira enquanto tivesse fazendo a barba ou escovando os dentes.

TADEU – Ôxe meu irmão! E minha professora falou isso também. Ainda disse que a gente tem que cuidar pra deixar também pra os nossos filhos e netos. Eu mesmo quando estou escovando os dentes, eu controlo a água pra não estragar.

DINA – Mas o pior não foi isso, ainda teve algo pior. A vizinha estava lavando o carro na frente da casa dela e muitas vezes atendia o celular e a água ficava escorrendo, então a danada da Lita foi lá e desligou a torneira e desafiou a mulher dizendo que se ela continuasse ia fazer uma denúncia anônima. Eu só sei que a mulher veio bater na minha porta gritando que quem pagava as contas era ela. E tem mais, a Lita já está dizendo que vai pular o muro da outra vizinha e vai desligar umas luzes que ficam acesas durante o dia sem servir pra nada. Se ela for fazer isso eu vou deixar Samuel dar uma surra nela, eu nem contei nada sobre as reclamações dos vizinhos pra ele não bater nela, mas se ela arrumar confusão eu deixo ele bater.

CHICO – Eu entendo a preocupação de Lita, e se ela pudesse, ela salvava mesmo o planeta. A fumaça dos carros é um motivo de poluição e também as indústrias que jogam gás carbônico no ar, e isso é ruim pra todo mundo, ainda tem o desmatamento na Amazônia e a poluição dos nossos rios.

TADEU – É ruim para os peixes com os rios poluídos. Ô Chico tu te lembras das duas barragens de lama que estouraram lá em minas Gerais e que matou muita gente? Até hoje
tem gente desaparecida. E tudo isso é culpa do próprio homem, dos empresários, e o governo que nada faz.

CHICO – E então menino, muita gente deixou suas casas porque a lama saiu destruindo tudo, eu vi pela televisão. Minha vó chorava tanto coitada que foi preciso deixar a televisão desligada, mas também ela tinha razão de chorar, por que nessa mineradora tinha um conhecido dela de muito tempo que trabalhava lá.

TADEU – Ainda bem que ele não morreu. É por isso que a Lita, neta do velho diz que vai ser a menina que vai consertar o mundo. Mas será que ela vai consertar mesmo? Eu acho que nessa falta de respeito só quem sai perdendo é o pobre. (Beraldo, Lita e Belinha, vão chegando com os cabelos molhados).

LITA – (Corre e abraça a mãe). Mainha o que a senhora veio fazer aqui também?

DINA – Vim esfriar minha cabeça, porque os vizinhos não param de bater na minha porta e tudo isso por causa da senhora que fica controlando a vida dos outros. Posso ficar as férias por aqui seu Beraldo? Seu filho Samuel mandou lembranças e disse que qualquer dia vem passar um final de semana com o senhor. É seu Beraldo, eu sempre digo a essa menina, faça o seu e deixe os outros, mas ela só faz diferente.

LITA – Mas o que eu faço, não é só por mim, é por todo mundo. Não é justo na minha casa faltar água porque o vizinho não racionou. É por isso que eu gosto daqui onde vovô mora. É um silencio gostoso, o riacho não tem poluição porque ninguém joga porcaria dentro dele.

BELINHA – E vocês dois vieram aprontar novamente foi? Eu estou sabendo o que vocês dois fizeram e quem me contou foram as crianças.

DINA – Agora eu estou voando, já não estou entendendo mais nada.

BERALDO – Antes de sair eu ia perguntar para as crianças se elas viram alguém com uma tarrafa que eu estou terminando para meu vizinho Sebastião, e agora eu vou saber. Quem aqui viu quem levou minha tarrafa levante a mão. Quem foi? O Tadeu ou o Chico?

DINA – Meninos são fogo. Tá vendo? E vocês falando comigo todos os dois caladinhos.

CHICO – Calma pessoal. Seu Beraldo eu vou contar tudinho ao senhor. Eu botei minha gaiola e a do Tadeu na cerca pra os passarinhos tomarem um banho de sol, depois deixei as gaiolas na cerca e fui colher umas amoras pra minha mãe fazer uma torta, mas quando voltei, encontrei minha gaiola e a do Tadeu quebradas e os passarinhos foram embora, então eu disse ao Tadeu que tinha sido o senhor. O senhor me falou um dia que ia soltar meus passarinhos e que ia quebrar minhas gaiolas.

TADEU – É isso mesmo e a gente ficou com muita raiva, por isso que pegamos sua tarrafa e levamos pra jogar dentro do riacho, mas lembramos que o riacho não merece que ninguém o deixe poluído, e depois ficamos arrependidos, mas alí está a tarrafa do senhor no mesmo lugar.

CHICO – Desculpe a gente seu Beraldo, nós estamos arrependidos e se o senhor dizer a meu pai ou ao pai de Tadeu, eles vão bater na gente. Por favor desculpe.

BERALDO – Bem, na realidade eu não quebrei gaiolas de seu ninguém, não gosto de ver os passarinhos presos, mas já que pediram desculpas e eu sei que vocês gostam de estudar, vamos esquecer tudo isso.

LITA – Eu vou contar uma coisa pra vocês dois, na verdade eu cheguei logo cedinho e antes de falar com o vovô, eu fui na beira do riacho e vi que ao lado tinha realmente uma cerca, e tinha pássaros cantando. Olhei se tinha alguém por perto, e como não tinha, soltei os pássaros e quebrei as gaiolas, pra nunca mais deixarem os pássaros presos. Lugar de criança é na escola e lugar de pássaros não é na gaiola.

BELINHA – Já que tá tudo resolvido, que tal a gente comer bolo com refrigerante?

DINA – Refrigerante nem sempre é bom, mas só algumas vezes, não faz mal. (Belinha vai buscar o lanche). Seu Beraldo e o roçado como é que tá? Seu filho fica muito preocupado com o senhor e até falou comigo pra o senhor vir morar com a gente.

BERALDO – Mas minha filha, meu lugar é aqui mesmo e eu só saio daqui quando eu morrer. Se eu fosse morar em outro lugar eu ia morrer de desgosto, por isso não invente não, deixe eu aqui, mas quando vocês quiserem vir pra cá, pode vir qualquer hora e se quiserem morar podem trazer a mudança. Dina vou te dizer uma coisa, eu sempre cuido da minha horta e tá tudo muito bonito. Eu acho que minha neta, puxou um pouco a mim, e ela faz as coisas sem medidas porque ainda é uma criança, mas tudo que ela diz é verdade. Precisamos com certeza socorrer o nosso planeta e todo mundo tem que fazer sua parte. Muitas coisas estranhas estão acontecendo.

LITA – O gelo no planeta está derretendo e isso vai causar o avanço dos oceanos, o aquecimento global é também outro problema e se a gente não cuidar virão mais problemas como: terremotos, maremotos, tsunamis, ciclone e etc.

TADEU – Acho que se meu pai fosse morar em outro lugar, eu ia sofrer bastante. Deus me livre morar na cidade poluída. Quero nada, e os meninos da cidade são todos metidos a besta, não é Chico?

CHICO – E não é Tadeu, eu também não gosto dos meninos da cidade não. Aqui no engenho Esperança nós somos felizes, respiramos ar puro e estamos sempre em contato com a natureza. Quando eu vou à escola na cidade, eu fico logo ansioso pra voltar.

DINA – Se meu marido Samuel, quisesse vir morar aqui no sítio, eu não ia pensar duas vezes. Eu adoro isso tudo aqui, e vocês são abençoados por isso. Graças a Deus a sua tarrafa está no mesmo lugar e tudo seguirá em paz.

LITA – Eu gostaria de saber se você Tadeu, e você Chico, vão continuar aprisionando os passarinhos, porque eu sempre achei vocês uns garotos inteligentes.

TADEU – Eu mesmo, Deus me livre. E se eu encontrar pássaros presos, se eu tiver condições, eu solto.

CHICO – Eu também, jamais vou prender os passarinhos, e também os outros bichos a gente tem que dar amor e carinho e nunca mal tratá-los.

DINA – Sim seu Beraldo, o senhor vive sozinho desde que a sua esposa adoeceu, e o seu cachorrinho que sempre lhe fazia companhia?

BERALDO – O totó? O totó morreu faz uns dois anos. Eu sinto muito a falta dele. Eu ia pescar ele ia comigo, ia tomar banho no riacho ele também ia, ele era meu companheiro e é por isso que decidi não mais adotar outro cachorro. A gente cria e pega amor, mas quando morre é muito sofrimento.

LITA – A Belinha saiu e não voltou mais, vou aqui falar com ela. Belinha cadê tu menina, morresse foi? Eu vou aí te ajudar.

DINA – Vá minha filha, vá ajudar ela a fazer o nosso lanche. Pois é seu Beraldo, eu tenho uma amiga veterinária que quer me doar um filhote de pastor alemão, se o senhor quiser eu pego ele pra o senhor, pra o senhor não ficar tão sozinho. Eu só pego quando ele já tiver grandinho. Vai ser bom pra o senhor.

CHICO – É isso mesmo dona Dina, seria ótimo pra seu Beraldo, vá seu Beraldo, vá, eu e o Tadeu cuidamos dele quando o senhor não tiver em casa

TADEU – Pegue dona Dina, pegue, que a gente cuida também.

DINA – Calma crianças! A resposta final é de seu Beraldo. E aí seu Beraldo vai aceitar?

BERALDO – Tá bom (os meninos pulam de alegria), mas lembrem-se que vocês dois me disseram que iam me ajudar a cuidar do cachorro.

DINA – Eu acharia muito interessante a gente escolher já um nome pra o cachorro. O que vocês acham?

CHICO – Eu acho muito bom, mas eu acho que as crianças que estão aqui que deveriam escolher o nome por votação.

TADEU – A gente escolhe três nomes e dentre esses três as crianças votam levantando a mão, e eu já tenho um nome. Eu botava o nome de Leal.

DINA – E o senhor seu Beraldo, qual o nome que o senhor botava no seu cachorro?

BERALDO – Eu só não botava totó, pra não lembrar do outro e ficar chorando de saudades, mas eu botava o nome de Rex.

DINA – Que tal, se a gente chamasse ele de Capitão?

TADEU – É melhor chamar as meninas pra elas participarem, vou chama-las. Lita e Belinha por favor venham aqui.

BELINHA – Mas o lanche já está na mesa.

DINA – Depois a gente lancha, mas primeiro vamos escolher um nome de um cachorro que eu vou trazer pra o avô de vocês. Os nomes escolhidos foram Leal, Rex e Capitão. Agora as crianças que vão decidir o nome. (Eles fazem a escolha do nome para o cão).

LITA – E agora que o cachorro de vovô já tem um nome vamos bater palmas pra ele.
Crianças, foi muito bom falar com vocês, mas por favor vamos praticar bons hábitos na nossa casa pra ajudar o nosso planeta. Nada de desperdício de água, de energia, se possível separar o lixo e nunca poluir os rios jogando, pneus, sofá, garrafas pets. O rio é lugar de peixes por isso vamos cuidar, e pra gente terminar vamos cantar a música do rio que cantamos no início. (Cantam a música e finalizam entrando na casa).

(Flavioactor@gmail.com – 81-985872546 – Para montagem deste texto, favor entrar em contato com o autor).


Biografia:
Sou autor de textos de teatro, e poesias em literatura de cordel. Também sou Arte Educador, ensinando crianças e adolescentes, como também, pessoas da terceira idade.
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Outros títulos do mesmo autor

Teatro O MENINO QUE VESTIA COR DE ROSA FLAVIO ALVES DA SILVA

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