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A prosa esclarecedora
Giulio Romeo

Certa vez, um filósofo resolveu sair da cidade grande, de seu escritório, de seus estudos e pesquisas e se aventurou em uma viagem inesquecível. Foi contemplar a Floresta Amazônica para reciclar a mente e seus pensamentos em relação a vida e a Criação. Uma fuga para não enlouquecer e filtrar os seus sentimentos e sentidos em relação ao cotidiano conturbado das grandes metrópoles e ao excesso de informações desnecessárias e situações constrangedoras e imprevisíveis.

Lá estando, aventurou-se no desconhecido, adentrou a floresta, observou atento as belezas do local, a natureza em sua forma primitiva, como reza a criação, e além da esplendida flora, exuberante e hipnotizante, a rica fauna com exemplares raros, exóticos e únicos que ali habitavam, praticamente sem a interferência do Homem. E observou também um senhor que ali estava, próximo ao rio, olhando as águas cristalinas e os peixinhos brincando de pega-pega.

Aproximou-se do ancião e educadamente lhe cumprimentou:
- Boa tarde, e logo recebeu a resposta: - Boa tarde.

Pediu permissão para sentar e estar ao lado do nativo. Assim feito, os dois ficaram em uma prosa sem fim, como se fossem velhos conhecidos e com o ancião pacientemente enumerando as qualidades do local, exemplificando e descrevendo todas as características positivas ali existentes. Falou sobre as medicinas da Floresta e seus benefícios a saúde, do peixinho vilão, o tal do Candiru, das piranhas agressivas, das ervas, das folhas, dos cipós, das árvores, enfim, da vegetação como um todo. Deu uma verdadeira aula para botânico nenhum colocar defeito. Além disso, citou muitos fármacos naturais e para que serviam. Os ricos e deliciosos pratos da região, suas iguarias, os peixes deliciosos e suas beberagens.

Em determinado momento, no meio da rica e agradável prosa, o ancião fez uma pergunta ao filósofo:
- Posso lhe fazer uma pergunta profunda, moço? – E obteve o consentimento imediato.
- Como é o mundo fora desse cenário? – Pois não conheço a cidade grande, os prédios altos, a muvuca das pessoas, o barulho dos carros, o metrô, as grandes lojas e mercados, cinema, teatro, a praia, a poluição e também os restaurantes chiques e isso me causa um enorme vazio e uma lacuna enorme no conhecimento.
Sorrindo, o filósofo respondeu:
- Uma confusão generalizada, odores variados, congestionamentos, poluição sonora e grande concentração de pessoas e veículos.
Daí o ancião abaixou a cabeça e disse:
- Olha moço, parece que eu nunca irei conhecer esse lado da vida, ficarei preso aqui até a morte. E falou com uma tristeza profunda, com sentimento de impotência e recheado de lamentações, lamúrias e desânimo total.
O filósofo novamente sorriu e disse:
- Não se apoquente, não fique triste ou decepcionado, pois o Criador deu para cada um, uma missão nessa vida. E a sua, é uma das mais nobres que eu conheço, acredite! – O ancião olhou, coçou a cabeça, levantando parte do chapéu de palha e respondeu:
- Como assim, explique melhor moço! Rapidamente, usando jogo de cintura e seu vasto conhecimento filosófico e racional, o filósofo respondeu:
- Imagine o pato, que nada, anda e voa, mas não faz nada direito! – E assim, meu querido amigo, digo-lhe que se nos concentramos em fazer uma coisa só, aprimorando seu método, a sua dinâmica, o seu potencial e também seus limites, faremos o certo e daremos o melhor de nós, e assim, aperfeiçoaremos a nossa inteligência, o nosso entendimento, a nossa sabedoria, e agradaremos a nossa Alma e também o Criador.

E a oportunidade da curiosidade, para muitos foi negada, pois a missão que os compete é maior que o desejo de saber por simplesmente dizer que conhece por conhecer, sem poder realmente desfrutar, como no meu caso agora. Apenas estou conhecendo e nada levarei além das lembranças em forma de fotografia que quase se apagarão com o tempo.
    
O senhor faz o que determina a sua natureza, a missão que lhe foi conferida, ou seja, conhece tudo que acontece, que se passa nessa região e para que serve cada folhinha, cada raiz, cada criatura viva desse local, diferente, se conhecesse muitas coisas ao mesmo tempo e apenas generalizando ou definindo superficialmente seus conteúdos e utilidades, entendeu? – O verdadeiro professor, o verdadeiro mestre não é aquele que se empenha em teorias, estuda conceitos e somente cita a literatura. Na verdade, é o que conhece na pratica a função de cada indivíduo existente na área que vive.
E assim, determinou o Criador, que vosmecê fosse o guardião da área, dessa magnifica floresta, desse deslumbrante e cristalino rio e protetor dessa fauna inigualável e dessa flora exuberante e única em solo terrestre.
- Entendi, respondeu o ancião. Cada um no seu determinado local de vida, de criação e de vivência. Agora estou mais conformado e prometo não questionar mais a minha missão, pois se para cá fui designado, aqui serei o melhor que posso ser, e darei mais atenção as minhas prioridades, que nada fogem dessa paisagem ou desse magnifico cenário, que desde pequenino, aprendi a decifrar, amar, respeitar e dele sobreviver. Gratidão moço, pela ajuda que deu a essa mente cansada que só se lamentava, até então, de não ter mais visão de mundo, além desse horizonte...

Conclusão: Para poucos foi dado o direito do conhecimento. Para poucos foi dado o direito de escolha, mesmo assim, temos que agradecer a oportunidade de conhecer essa dimensão, de desfrutar da vida com saúde. Muitas vezes, a curiosidade é um desejo incontrolável de apenas saber ou conhecer, mais nada além disso. Não devemos conhecer tudo, todas as coisas e lugares ao mesmo tempo, pois o tempo se encarrega de apagar ou ofuscar as nossas lembranças, e na verdade, não conheceremos nada por inteiro, apenas em caráter superficial. Conheça por completo uma coisa só, um determinado aprendizado, pois assim será, sem duvidas nenhuma, mestre no tema e senhor da situação. Reflita!



Biografia:
Professor de Ciências da Religião, Teólogo, Filósofo e Pesquisador de Ciências ocultas. Procuro a verdade e quero compartilhar meus estudos sobre o comportamento filosófico e religioso de povos e comunidades, que tem a fé, como sustentáculo de sua existência tridimensional.
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