Ponho o poema
no meio da rua
e ele não será lido
nem pelo que passa
nem pelo que fica
nem pelo transeunte da agonia.
O poema é mudo.
Espia o mundo e então cresce,
toma ruído,
atropelado pelos carros sem governo.
E não será lido.
O poema é sujo
e parco em poesia.
Mudo e nulo, é carga.
Não é todo dia
não tem sortilégio
não sangra
não é monumento
não ilumina.
Ponho o poema
no meio da rua
e espero...
e ninguém o vê
ninguém o percebe
mesmo agora, quase um paquiderme.
É um amontoado de grifos desconexos,
gritos de amor, adultérios
e não é nem um pouco poético.
Se movimenta, balança no ar,
bate as patas no meio-fio
e não é visto
não será lido.
O poema já não cabe na rua
e avança para o mar.
O passo lento não marca sombra,
não esconde a cidade.
O pandemônio tem todos os gritos
e não é ouvido no tráfego.
Pisa a areia e não deixa marca.
Mas o mar, sempre o mar,
não ouvirá o poema
não o verá
não o lerá.
O mar, sábio em espumas,
se abre como profético
ao paquiderme esquecido da cidade.
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Biografia: Danilo Barcelos Corrêa, 25 anos, é formado em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e mestrando em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Natural de Belo Horizonte, é professor de Literatura no curso de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Escreve para a revista eletrônica Klups e tem textos publicados em antologias literárias e revistas do ramo. Seu primeiro livro, Barulho Branco, é de 2006.
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