Lamentações
- É, mendigo Fulano,
lembro-te de quando,
era eu um poeta,
um ótimo cata-letras,
do bolso escondido
desta pragmática sociedade.
- É, meu amigo mendigo
lembra-se de como
eu andava bem vestido,
e sentei-me na escadaria
do Teatro Municipal
a observar as formigas
vagando por toda a cidade,
a procura da felicidade,
umas atrás das outras...?
- Lembra-se do maço de cigarros
caros e importados que eu tinha
e que me pedistes apenas um
vendo-me guardar o maço recheado
no grosso sobre-tudo
enquanto dizia-lhe que era o ultimo?
- Lembra-se que me olhaste,
e me disseste que somos iguais?
Que eu estaria ali, onde estavas,
naquela posição humilhante,
quando não quisessem mais
ler as letras que vêm de dentro
do fundo do peito, que gofa,
e arrota o ódio,
que a humanidade traz
por si mesma?
- Lembrastes do que fiz,
de como reagi àquele
seu comentário vago?
- Sim nobre poeta... Mendigo,
reagistes como todos reagem
agora com você, no que escreve,
não prestam o olhar - ignoram,
a real verdade
de que o tempo é como um louco
mendigo, que vaga pelas ruas
e por tudo passa,
ricos e pobres,
lágrimas e sorrisos,
até morrermos aqui,
nesta escadaria...
neste frio, na garoa,
de lamentações.
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Biografia: Escritor desde seus quinze anos, vencedor de doze concursos de poesia, três de contos e do prêmio de romancistas da semana cultural de São Paulo, Hiago Rodrigues de Queirós é digno de minutos de leitura, e esses minutos se vão, completando dias e noites, até o leitor dormir e sonhar dentro do livro.
Sua ironia incastigável é um grande destacador de seu estilo de escrever, sua indescrissão, revelam ao leitor o quanto ele mesmo pode voar dentro de um livro. Hiago, sem dúvida é uma das maiores promessas da literatura mundial. |