NOS DIAS CALMOS DA ESTÂNCIA
São quase lindos romances
– por seus desesjos e ânsias –
Os olhares que se cruzam
nos dias calmos da estância.
Vez por outra, nem avisa,
quem se espia da cancela
co'a filha do capataz
pelas frestas da da janela.
Uma espora avista a outra,
conforme a sombra de um potro...
O estrivo destro – enciumado –
cuida a volta do canhoto.
E o par de rédeas trançadas
que descansam rente ao pasto,
etendem olhos às mãos...
...que ainda firmam o basto.
Um mouro recém pegado
Palanqueado no rigor,
Troca olhares desconfiados
Co'as voltas do maneador...
E as encilhas no costado
Já presumem – feito esboço –
Que irão ter na mirada
A face de pêlo grosso.
Sem sorte, é triste a argola
Que reluz junto à porteira,
Não vê a gêmea do laço,
Tampouco a da barrigueira
E os cascos, num só compasso,
Mal se enxergam no clamor
Que lamenta a poeira osca
Erguida no corredor.
Tajãs em banhados grandes
Miram de forma qualquer
As flores que adormeceram
Nos braços dos aguapés...
Enquanto retorna às casas
Um taura na imensidade
Com olhos rumo à estrada
Que espelha apenas saudade.
Retinas de descendentes
teimam esconder o pranto
quando lhe tocam vistaços
das cruzes de um campo santo.
Os umbús - guardiões do tempo –
por tamanha imensidão,
são vigiados, em silêncio,
aos olhos da solidão.
Crinas deflagram imagens
emolduradas no campo,
se presas pelo destino
frente as pupilas de um grampo.
Ou então serão a espera
que, já de vistas cansadas,
assiste o seu próprio fim
por uma tesoura afiada.
Quem sabe, um dia, romances...
Por ora, olhares cruzados...
Tal os de uma estronca firme
aos sete fios do alambrado.
Eternos na consequência
por seus desejos e ânsias...
– Poemas feitos sem versos,
nos dias calmos das estância.
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