MEUS MOTIVOS DE XERGÃO
(Matheus Costa/Geovani Silveira)
Levo comigo o destino
de sobreviver ileso,
carregando o largo peso
da encilha de algum potro;
E na prisão do meu corpo,
manchas e pêlos mesclados
dizem que mesmo ofuscado,
sou diferente dos outros.
Eu que sempre batizei
incontáveis caborteiros...
...e contra o medo primeiro
levantei de tantos tombos;
Hoje somente me escondo
sob o aperto dos bastos,
sem dividir este fardo
com as “cruz” no altar do lombo.
Nos cavaletes, repenso
se meu próprio tempo quis
que eu não tenha cicatriz
dos abraços do cinchão.
- Mas lamento a solidão
de quase nunca ser visto
e alguém nem notar que existo
ou que tenho coração.
Com pressa, bem estendido
junto à um sogueiro que pasta,
sou todo apero... e já basta
pra qualquer freio na mão!
O simples da minha razão
traz verdades que eu garanto;
E se posso, ainda canto
meus motivos de xergão.
Pelas tardes em que rondo,
disfarço no suor meu pranto...
...esvaído pelo encanto
de uma face querendona:
-Eu que muito fui das domas,
não amansei meus desejos...
...pois jamais ganhei um beijo,
nem carícias da carona.
Quando findam recorridas,
adormeço no alambrado
- testemunha de um recado
que surge como desenho -
Feitio da estafa que venho,
revelando o que não falo,
ao deixar junto aos cavalos
o real formato que tenho.
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