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A filosofia póstuma
José Rony de Andrade Alves

A morte é algo bom ou ruim? Esta fora a pergunta que me tangenciou de modo irresolvível nas últimas décadas até a tão temida morte me abraçar. Eu fui bastante crítico, cético e, por vezes, um verdadeiro objetor de qualquer vida póstuma, a não ser das vidas micro-orgânicas. Busquei a sabedoria por meio dos livros e da meditação. Foi um fastidioso empenho rumando a filosofia da morte, fitando comprovar racionalmente a ausência crua da vida pós-vida. Busquei, por todos os meios possíveis, indícios que me levassem a uma estrutura concreta sobre a evidência da ausência. Abneguei família, triunfos, desejos, virtudes em favor de algo maior: a solução de uma problema simples que necessita de apenas uma simples prova. Entretanto, a simples prova torna-se algo tremendamente difícil de se obter, até porque não existe tecnologia capaz de avaliar a não-existência da alma. A alma é objeta à razão, e essa dicotomia faz com que se torne impossível de equipará-los com métodos racionais, pois, seria avaliar unilateralmente; por exemplo, se avaliássemos uma pintura com olhos daltônicos não iríamos obter a essência expressiva do pintor, caso este seja normal. Foi diante dessa ótica que formulei o gérmen do meu projeto que iria transladar toda a humanidade. Busquei seguir a escrúpulos o método racional e, a posteriori, o método contra-racional. A minha tese foi a negativa da vida; a minha antítese foi a existência da vida e a minha síntese foi: a compartilhação da dualidade. Como assim?Caminhei como um racionalista ferrenho, estudei o máximo que pude, abdiquei de tudo e de todos para tão-somente volver-me ao estudo, a miúdos, das visões: cultural, cética, sábia e, sobretudo, divina. Na penúltima visão acabei endoidando. Triste fim eu tive. Perdi a família, todo o sucesso de um cientista promissor na área da psicanálise, e acima de tudo, perdi aquilo que levei como a única existência: A vida. Ainda não morri por completo, até porque estou escrevendo esta carta neste horrendo hospício. Tresvariei quando estava prestes a concluir o meu projeto; a mentalidade divina decerto não foi cabível para a mentalidade de um homem limitado por dúvidas. A dúvida é tão cruel quanto a certeza. Então, a única certeza que tenho é que não sei de nada e que serei mais um que tentou compreender algo incompreensível. A morte me abraçou, e então, virei um vivo-morto. Matei a mim mesmo e para mim a morte não será mais uma tormenta, pois já morri uma vez, e morrer pela segunda vez será um alívio. Quem sabe quantas vezes irei morrer ainda...
E sobre a morte, se é bom ou ruim, digo-te que um dia saberá; talvez pelo jeito que descobri ou talvez pelo jeito que irei descobrir...


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