eu não acredito que você nunca
se sinta sozinha para desprezar
tanto meus abraços e minha companhia.
não posso aceitar que seus passos
estão sempre certos, que sua vida é perfeita,
sem um pouquinho do meu amor.
ninguém escapa da solidão da chuva,
do medo da noite vazia, do silêncio
de não pertencer a ninguém.
eu sei que há um espaço em seu coração,
falando, baixinho,sobre nós,
quando você sorri sem vontade.
você tranca a porta, abre a janela,
se incomoda com o inverno, fecha a cortina,
se deita, mas não me chama,e
nem suspeita que eu poderia estar
observando tudo isto, perto da sua casa.
então você fala sobre amor, às vezes com
ironia, outras vezes redescobrindo sonhos
antigos que acordam em um olhar
distante.
você perde o ônibus, vai em pé no trem,
não sabe andar pela cidade do Rio,
e nem por isso me liga angustiada,
tirando de mim as chances
de ser seu herói, numa manhã
comprometida com o caos.
agora tudo passou. Está passeando pelo
bairro, vai à casa da Fernanda, passa igual
uma louca pela minha rua, é sexta-feira,
volta ao entardecer, e a tua cabeça dura detona
meu nome, quando eu caberia perfeitamente
ao teu lado, ao invés de reclamar em
público que está sozinha
numa sexta-feira à noite.
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