Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
CASSINO DA MAROCA
Tânia Du Bois


     Sou a primeira a aceitar convite para ler obras literárias, principalmente, se for antiga, pois, costuma ser “mais viva” quando contada através das histórias ouvidas no decorrer do tempo; posso ler no correto tom as necessidades, inquietudes, costumes e anseios dos personagens. Suas posições político-sociais versando sobre os dias de ontem são temas inegáveis que rondam o ambiente no abordar questões polêmicas de cada ser em relação íntima com o curso da vida; como encontro no livro-álbum, de 1993, escrito e ilustrado por Ruth Schneider: O Cassino da Maroca.
     Ruth expõe à luz do dia o que se passava à noite, entre portas fechadas, no Cassino. Resgata a época inusitada no espelhar, através da arte, a sociedade passo-fundense dos anos cinquenta. O gosto pela história do Cassino da Maroca a incentivou a contar sobre aquele ambiente, o mais procurado pelos homens para a realização dos seus desejos, no desafio de se realizarem sexualmente; pagando o preço de dizer “sim” à liberdade, libertinagem e liberalidade em relação ao sexo e ao prazer físico. Desvela assuntos que despertam curiosidade, ainda hoje, ao retratar o mistério dos prazeres dos homens enquanto frequentadores do Cassino, onde seus pensamentos e sentimentos se manifestavam – e iam além – no escolher a mulher mais bela e sensual do local; disputavam entre si a meretriz mais sensual e provocativa. Por tudo isso, O Cassino da Maroca era o ponto de encontro onde as “coisas” aconteciam, sob o olhar compenetrado da cafetina. Seus “clientes” consideravam o local alegre, voluptuoso, prazeroso e fonte de desejos.
     Contam as más línguas que, “Um frequentador assíduo do Cassino estava em sua casa, comemorando seu aniversário com a família e amigos quando, após muita festa e bebidas, refestelou-se no sofá da sala e gritou para a mulher que passava: “Vadia, fecha a rosca que quero ir para casa.” O problema foi que ele estava em sua casa e era a sua esposa a mulher que passou na sua frente.
     O Cassino da Maroca era “assunto” que despertava crescente atenção na elite da sociedade passo-fundense, por nele habitar figuras interessantes, como: Maria Bigode (de faca na bota); Maria Preta (figura berrante e mística de cor de jambo); Maria Zeca Navalha (responsável pelo controle das regras da casa e, quando necessário, puxava a navalha e cortava os desobedientes); Alice Miranda (dançarina e cantora); Heloísa dos Cachorros (deitava com os homens sem dispensar a presença dos cachorros). Além das tantas mulheres, havia o Trovador, no bar amoroso: “as mulheres escreviam o seu nome nas paredes e muros e, por cima, selavam o registro com batom.”
     A arte de Ruth Schneider está centrada na sua memória afetiva, na representação da diversão lá existente e nos preconceitos de uma cidade em momento de desigualdades e repressão. Para Armindo Trevisan, em comentário registrado na obra, “ela sabe ser ferina sem deixar de exibir, no âmago de seu festival burlesco, um tom de ternura...”
     Outra passagem interessante encontrado no livro é a da costureira Elvira, que confeccionava os mais lindos vestidos, sem fazer distinção entre as mulheres da “zona” e as da sociedade, ressaltando na obra de Ruth, mais a diferença superior do homem, na época, do que propriamente a “dor moral”; apenas o material e distintivo.
     Ler O Cassino da Maroca é lembrar além do que ouvimos sobre o passado, através de imagens - na farta ilustração da autora – e palavras, como estigmas arraigadas na cultura regional. Convite para descobrir a história da cafetina e suas meretrizes, bem como as reações ardentes que suas atividades despertavam e desencadeavam nos “clientes”.
     Conta a “lenda” que “Maroca viu o casal se esfregando no salão do Cassino, o que era contra as regras casa; então, gritou: parem com essa pouca vergonha! Isto aqui não é o Clube Comercial! É uma casa de respeito!!”


Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
Número de vezes que este texto foi lido: 61406


Outros títulos do mesmo autor

Artigos ESTANTE Tânia Du Bois
Artigos QUANTO TEMPO CONSEGUIMOS FICAR SEM O CELULAR? Tânia Du Bois
Artigos RISCAR O VIDRO DA JANELA Tânia Du Bois
Artigos TELEVISÃO Tânia Du Bois
Artigos “VOZES da NATUREZA” Tânia Du Bois
Artigos QUAL É O NOSSO LIMITE? Tânia Du Bois
Artigos RODA VIVA Tânia Du Bois
Artigos Próxima conquista: CONVERSAR Tânia Du Bois
Artigos VOCÊ e EU Tânia Du Bois
Artigos VIVER COM ARTE Tânia Du Bois

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 41 até 50 de um total de 340.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Coração - Marcos Loures 61477 Visitas
POR JUSTIÇA SOCIAL - Manoel Messias Belizario Neto 61475 Visitas
Linda Mulher - valmir viana 61475 Visitas
Pensar, potencializar e receber - Isnar Amaral 61474 Visitas
Poeta do Caminho - valmir viana 61474 Visitas
O nascimento da poesia - Flora Fernweh 61473 Visitas
MENINA - 61473 Visitas
O valor que se dá ao encontro - Flora Fernweh 61473 Visitas
Brasil e Inglaterra com emoções! - Vander Roberto 61473 Visitas
REFLEXÃO - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 61472 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última