Julita é a filha mais velha de d. Gertrudes, uma cozinheira de meia-idade, empregada numa empresa extratora de vanádio.
Numa dessas semanas habituais, após d. Gertrudes ter ido trabalhar, como todas as mulheres,que sozinhas, são responsáveis pelo sustendo do lar, Julita experimentou pela primeiro vez, o que deveria ter acontecido a muito tempo. A noção de dever e responsabilidade.
É que após ter mandado um zap para sua mãe perguntando-lhe se era necessário passar pano na casa, viu sua frágil tranquilidade esvaziar-se em milésimos de segundo quando sua irmã mais nova, já adolescente, lhe disse: "ué, você não vai passar pano na casa? depois não espere que eu lave o banheiro, pois eu não vou!"
Não dando muita bola para aquilo, tratou de pegar o material necessário à limpeza, quando novamente sua irmã lhe atormentara, dessa vez perguntando:" você está passando pano na casa para que eu lave o banheiro é?"
Surpresa com aquilo, respondeu rispidamente que não! E prosseguiu sua sina, profundamente desgostosa, já conformada com o banheiro que a aguardava. Afinal, há muito dantes eram como gêmios a dividir a mesma placenta.
Pois é, o banheiro, como tantas outras coisas, não ia lavar-se sozinho, e se ela não o de fizesse, ninguém mais o faria, pois todos tinham coisas mais importantes para fazer. Além de ser uma tremenda injustiça, delegar a outros sua própria função. Não seria mais fácil se Julita ao envés de perguntar, simplesmente fizesse o que sabia ser o certo? Mas hoje nem isso se sabe.
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