Cortinas invisíveis se abrem. Uma peça sem enredo definido inicia-se repentinamente.
Atores desconhecidos se unem nos diálogos soberbos da realidade absoluta. Não existem
críticas positivas nessas apresentações. Os espectadores mostram-se inseguros sobre o
aspecto das interpretações. Seria tudo um sonho perdido jogado no escuro? Por mais
sublime que a cortina da noite se demonstre, não há beleza exposta nos atos freqüentes
que brotam em cada esquina. O desdém de certos protagonistas transforma o desenrolar
num espetáculo sombrio. Lutas e guerras se sucedem, sangue inocente se espalha, e a peça
toma um rumo desviado. Então, uma pequena menina dirige-se ao palco imaginário. Loucura ou
compaixão? Que destino era reservado para ela? Com uma rosa igualmente minúscula em suas
mãos, um olhar de ternura imensurável e uma voz suave como um sussuro, a jovem dama
desvia-se na direção de um dos combalidos guerreiros. "Não se preoucupe"- ela diz -
"O sonho que persegue é verdadeiro, a intenção é real, apenas o caminho está enganado."
O combatente, ainda frágil, dirige o olhar para a menina. Capturado pela beleza da fi-
gura, seus olhos lacrimejam pequenas felicidades. Nos seus últimos suspiros, é abençoado
pela melodia pequena dos lábios da jovem. "Tudo bem" - diz a pequena - "Não são neces-
sários nomes para aqueles que perseguem sonhos. Tudo o que fez e o que farão por você, estes sentimentos tornam os seus objetivos em metas sinceras." O lutador se desfaz, então,
do pesado fardo da culpa, e falece. Inebriados pela beleza e sinceridade das palavras, nós,
os espectadores, deixamos esse teatro ilusório, satisfeitos com um resultante improvável
das reviravoltas mostradas. Saímos com a certeza de uma outra peça qualquer, iniciando
em qualquer lugar, enquanto a jovem garotinha canta melodias refinadas, enriquecendo os
sons que se ouvem nessa peça de um ato só.
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