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Seu Fish
O Cidadão de Bem
Marco Soares

Hoje não é meu dia. Me atrasei para o trabalho, sai correndo, nem tive tempo de escolher um sapato decente e meu café da manhã foi uma mísera fruta sem graça.
No primeiro semáforo, já irritado pela minha falta de sorte, tive que me preocupar em fechar o vidro do carro pra me esquivar de um pedinte que dizia estar com fome.
Vagabundo, por que não trabalha?

Acabando o turno da manhã, achei que finalmente teria um momento bom no dia. Fui ao meu sushibar favorito no fim da rua onde trabalho e chegando lá tive a desagradável surpresa ao ler num anúncio que eles não abririam hoje, já que a mãe do proprietário resolveu falecer durante a madrugada.
O anúncio ainda dizia que todos os amigos do local poderiam despedir-se de dona Yoko no cemitério da saudade. A falta de profissionalismo deles me enojou. Fui obrigado a comer macarrão numa cantina ao lado, em plena terça-feira.

Chega por hoje — pensei — ainda tem o turno da tarde — lamentei.

Me arrastei pelas últimas quatro horas improdutivas do meu expediente e bati meu cartão às seis em ponto.
Chegando em meu carro, perguntei ao guarda de trânsito o que tanto ele anotava em seu bloquinho e ele apenas apontou, com toda arrogância do mundo, para uma placa acima que indicava que a vaga onde parei era reservada a mongolóides, deficientes.

— Você sabe as chances de um deficiente precisar dessa vaga, seu guarda?

Ele não quis saber, me multou pelo puro prazer, ou para bater a sua cota de multas, porque todos sabemos que isso é uma verdadeira indústria, uma máfia que serve para tomar dinheiro da população. Uma vergonha!

Finalmente estou deitado em minha cama e o silêncio é absoluto e confortável.
Ainda bem que dei fim no gato da vizinha semana passada, aquele infeliz não me deixava dormir em paz. Pra que se divertir gritando no telhado dos outros?
Foi chato ver a menininha chorando enquanto o procurava, mas a vida é assim mesmo, é bom aprender a perder desde criança.

Meu dia foi péssimo, um verdadeiro desastre, mas tenho certeza que amanhã será melhor, Deus irá abençoar seu filho e vou ser recompensado por ser um cidadão de bem.
Não é fácil viver num mundo perdido, ter de dividir o mesmo chão com vadias que reclamam de abuso mesmo usando roupas curtíssimas, vagabundos que vivem às custas do governo e gays querendo ser tratados como pessoas normais. É o cúmulo.
Não me surpreende ter tido um dia tão azarado. Acho que é uma época azarada de se viver.

Pelo menos essa semana tem eleição. Meus ídolos vão vencer e devolver o mundo que as pessoas boas merecem e anseiam.
Boa sorte nos espera.

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Crônicas Seu Fish Marco Soares


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