Todo dia abro a caixa do correio
e vejo que não veio
a poesia que prometera me mandar
e solitário caminho de volta à porta
do silêncio que está em minha aorta...

Todo dia confiro e-mails e nada
não surge nem uma palavra
sobre a poesia que escreveria
falando sobre coisas do mundo agora
e também sobre coisas do mundo de outrora...

Todo dia debruço na janela
e espero entrar por ela
um pássaro carregado de versos delicados
mas o que vejo é o silêncio do céu
e abelhas zangadas pela falta de mel...

Todo dia fico ao lado do telefone
e espero aquele barulho insone
anunciando que sua voz virá até aqui
mas o que ouço são zumbidos de besouros
que esvoaçam e riem como se achassem um tesouro...

Todo dia desejo que me mande
um poema que dê força a este coração exangue
enquanto faço as coisas deste nosso dia-a-dia
relendo Drummond Neruda Baudelaire Rimbaud
e remexendo no baú antigo do meu bisavô...

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